Crônicas da Velha Ribeira (50)

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Uma das figuras que marcaram época nesta Velha Ribeira, foi um homem enorme chamado Luiz Tavares. Diziam que ele era portador de “elefantíase”, como popularmente é chamada a filaríase ou filariose, mas, pode ser que isso não seja verdade, porque ele não apresentava as deformações causadas pela doença. De fato, ele tinha mãos descomunais e os beiços muito carnudos e um vozeirão de barítono, mas isso combinava bem com seu porte gigantesco.

Segundo Oswaldo Lamartine – citado por Woden Madruga em memorável crônica nesta mesma Tribuna do Norte, em fevereiro de 2009 – “Luiz Tavares foi uma das melhores figuras populares de Natal do meado do século. Avantajado, fortíssimo, corajoso, feio, simpático, boêmio e excelente amigo, derrubador de gado, elegante, ligado à terra. Um coração que nem o Potengi encheria. Nele, tudo era aumentativo. Foi um gigante bom”.

Sobre essa figura ímpar, existe um vastíssimo folclore. Consta que, apesar de sua placidez, de certa feita, numa discussão com um motorista de praça, aqui na Tavares de Lira, em vez de ir às vias de fato com o sujeito – porque tinha consciência de que o cabra poderia até mesmo “baixar ao hospital”, caso ele lhe desse uns cocorotes – aplicou um potente murro no para-lama do seu Ford 1941, deixando uma mossa no carro…Dizem, também, que numa refrega acontecida num dos bares desta Velha Ribeira durante a Guerra, quando a cidade era cheia de americanos, ele – que, segundo consta, não participava da briga e teria entrado nela para apartar os contendores – foi derrubado no chão de madeira por um soldado do Tio Sam, mestre em artes marciais e, em vez de jogá-lo pela janela, cumprimentou-o por suas habilidades.

Mas, tem uma estorinha muito curiosa a seu respeito: trajando um terno de linho branco, compareceu a uma festa de aniversário na casa de amigos e como tava “ruim da barriga”, em vez de pedir para ir ao banheiro, resolveu “aliviar-se” no oitão da casa, que era pouco iluminado, tinha umas plantas etc, e tal. Terminado o serviço, cadê o providencial papel. Ora, a dona da casa criava uns pombos e ele pegou um deles – branquinho, como seu terno – e limpou-se com bicho, que ficou todo encharcado, com aquela coisa mole e fedorenta. Ao vestir-se, virou parta a ave e disse “Obrigado meu pombinho”. A “vingança” veio na hora! O pombo abriu as asas e sacudiu-se, daquele jeito que as aves fazem para enxugar-se e o terno branco de linho de Luiz Tavares ficou salpicado com sua própria matéria…Teve que sair da festa, de fininho, ou à francesa, como dizem os mais chiques.

Naquela mesma crônica de 2009, Woden conta como me provocou a respeito da estátua de Câmara Cascudo sobre uma mão gigantesca, em frente ao antigo QG do Exército, com o mote:

Cascudo ficou pequeno…/Na mão de Luiz Tavares. E saiu a glosa

Alguém disse, com veneno/Vendo o Mestre, alí, em pé/Na praça em frente à Sé/Cascudo ficou pequeno/Pois, à noite ou à sol pleno/No pátio dos militares/Dominando aqueles ares/O pai da nossa cultura/Parece miniatura/Na mão de Luiz Tavares…

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