Há 131 anos a Princesa Isabel assinava a lei área no Brasil, abolindo todo e qualquer tipo de escravidão aos negros no país, a partir deste dia em teoria eles seriam tratados como cidadãos e mereciam seu respeito junto a sociedade, porém mais de um século se passou, e a escravidão pode ter sido extinta no papel, mas o preconceito e a segregação interracial ainda é a mesma.
Mas, será que toda essa segregação é relevante, diante a importância das obras do autor? Por quê branquearam Machado, quando ao ler suas obras você pode imaginar a importância que os negros têm nelas? Quantos autores atuais não se inspiraram em suas obras, para explorar e expôr suas ideias?
São questões que deixam lacunas, pois hoje em dia vivemos num mundo tão alienado, que qualquer opinião gera debates desconfortáveis e desagradáveis, que acabam sempre em discussão inoportunas e alienadas, separa a humanidade e gera conflitos abomináveis. Mesmo tendo muita representatividade para expandir e propagar a literatura nacional atual e fortalecer os clássicos do Romantismo, Realismo, Modernismo, entre outros movimentos literários brasileiros.
“O embranquecimento institucional de grandes figuras negras aconteceu no Brasil com Machado da mesma forma que com Alexandre Dumas na Europa“, diz Rafael Calça, escritor e autor da Graphic MSP “Jeremias Pele”, que completa alegando sobre a negritude de Machado de Assim, “que foi um homem negro que em vida alçou fama e status até junto à Coroa“.
Já que com o passar das décadas alguns autores foram “perdendo” sua origem para sociedade, em que acabou braqueando e mostrando uma literatura elitista e fora de seus ideais convencionais, mas esse resgate se deu “graças a tecnologia e até mesmo alguns movimentos conseguimos corrigir isso, precisamos ter referencias negras em todas as partes“, disse o nerd e Youtuber Gil Santos, no canal LOAD Comics.
E com essa tecnologia, as pessoas puderam conhecer artistas de renomes e obras memoráveis tal qual, a premiada “Cumbe”, do autor e quadrinista paulistano, Marcelo D’Salete, que traz de forma inovadora a luta dos negros no Brasil colonial contra a escravidão, mostrando artisticamente de maneira emocionante os negros como protagonistas em uma trama repleta de resistência contra a violência das senzalas brasileiras.
Além disso, de forma mais lúdica, temos a 18ª graphic novel da MSP, “Jeremias Pele“, escrita por Rafael Calça e com arte de Jefferson Costa, que retrata o racismo ainda na infância, mostrando tais referências de que não importa sua cor da pele, você vale mais do que qualquer um, basta mostrar seu valor e não dar ouvidos aos que querem te deixar para baixo.
“Precisamos de exemplos para podermos se espelhar e cada vez mais acreditarmos no nosso potencial“, exemplifica Load, e ainda completa afirmando sobre “o que a faculdade fez foi um grande passo ainda mais nos dias de hoje, em que o atual presidente proibi um comercial com diversidade, o racismo no Brasil é algo enraizado e que precisamos ir combatendo no dia a dia com atos como esse, até as pessoas não estranharem mais saber que um grande escritor de literatura era negro“.
E por falar em combater o racismo diariamente, outra obra que merece destaque, é o “Contos dos Orixás“, do quadrinista Hugo Canuto, que representa não apenas a o negro em si, mas todo o legado e origem das civilizações africanas deixou por aqui, com suas tradições acentrais retratadas através das histórias dos Orixás, arquétipos milenares de força, coragem, sabedoria e beleza. Uma história que vai a fundo na cultura negra e mostra a essência e orgulho aos negros que aqui resistem, trazendo referências singulares e convenientes aos tempos atuais.
A pauta ainda fica mais complexa quando dita sobre as mulheres negras na literatura nacional, fazendo com que o racismo se torne ainda mais explícito e perturbador, já que se para os homens negros a dificuldade de mostrar suas obras é difícil, para as mulheres é quase nula, sendo uma em cem, de livros lançados por elas, e quando acontece, foram décadas lutando pela sua escrita e compartilhando em solitário suas publicações, onde algumas até desistem no meio do caminho de escrever ou produzir, por causa deste desinteresse no mundo literário, um ambiente gerido por homens brancos de classe alta.
Esse é um tema que poderíamos deslanchar para outras diretrizes, mas que nunca deve ser omitido ou esquecido, pois os negros estão no DNA de cada brasileiro miscigenado, que luta diariamente por suas ideias e ideais, para que sua conquista seja valorizada pelo que ela é, e não branqueada por uma sociedade hipócrita que não aceita suas misturas. Precisamos abrir as mentes e focar nas diferenças, para aprender caminhar lado a lado e dar oportunidades quando se chega no topo, e não se tornar como aqueles que um dia o ignorou.
Contemplamos “esse momento lindo que a arte brasileira tem trazido, apesar de um certo atraso com pessoas como Conceição Evaristo, Elisa Lucinda, Eliana Alves Cruz”, relata o autor da tirinha “Rê Tinta“, Estevão Ribeiro, que ainda completa falando que as “grandes promessas que cavam espaço à unha, mas antes do mercado em crise já era difícil publicar, agora com livrarias fechando, podemos contar apenas com a força das editoras novas dentre outros autores e autoras”.
Além disso, que Machado de Assis não seja “lembrado apenas em época de vestibular, mas que também inspire a juventude negra a contar suas próprias histórias por todos os meios disponíveis“, finaliza Rafael Calça.
Fonte: O Barquinho Cultural