O corte silencioso

Desde que me conheço por músico, uma coisa sempre esteve ao lado da profissão: como é difícil viver de música!

Eu comecei a tocar em bandas aos 13 anos, inicialmente era tecladista e, só depois de ter participado de várias bandas, é que optei por ser baixista — função que desenvolvo até os dias de hoje.

Apesar de ter conseguido literalmente viver de tocar música e, mais difícil ainda, tocando minhas próprias músicas, a dificuldade para que isso ocorresse foi enorme e continua até os dias de hoje.

É preciso muita dedicação, força de vontade, paciência, dinheiro investido, resiliência e muito amor a música! Talvez o principal ingrediente nessa salada de atitudes e comportamentos adotados pelo músico. O sonho de ter seu trabalho reconhecido, de ser conhecido, ser famoso e ganhar muita grana, move a mente dos músicos iniciantes que, ao montar suas bandas, disponibilizam toda energia possível para enfrentar a pior fase, que é o começo.

E nesse começo, o investimento é enorme em todos os sentidos. Começa com a compra dos instrumentos, as aulas para aprender a tocar melhor, os ensaios em estúdios, os shows vazios, sem cachê e por aí vai… a inexperiência de ainda não saber montar um show faz com que a banda não faça um show em si, mas uma apresentação das músicas ensaiadas! Notem que existe uma diferença entre um show e uma apresentação musical, e a maioria das bandas demoram para captar isso (até porque a experiência é que irá fazer a banda perceber).

E diante de tudo isso que faz parte do dia a dia de alguém que quer ter ou participa de uma banda vem a outra enorme dificuldade que é ter algum tipo de renda com sua música.

Isso não se resume a apenas a situação atual de nosso país, pois como falei antes, desde que me conheço como músico, sempre foi difícil você ganhar alguma coisa com banda, principalmente nos primeiros anos, e não quer dizer que quando você ganhar um cachê com um show, a partir daí todos os shows serão com cachês! Quando a situação econômica aperta, aliás, sempre foi apertada aqui no Brasil, ocorre o corte silencioso na música e na Arte.

As pessoas passam a ter mais dificuldades em pagar suas contas, e dão prioridade as suas necessidades básicas e a primeira coisa que deixam de fazer é o lazer. Ir a shows musicais se enquadra nisso. Nós músicos, além de enfrentar uma concorrência desleal com a modernidade que coloca dentro de nossas casas e celulares: filmes, netflix, internet. Depois temos de enfrentar o preço da gasolina e a lei seca! Depois a violência que trás medo as pessoas fazendo com elas não queiram sair de casa. Depois o valor dos produtos consumidos na noite ou dia do evento e o preço do ingresso, a concorrência com eventos maiores marcados no mesmo dia que o seu! É muita concorrência!

Quando conseguimos fazer com que a pessoa resolva enfrentar todos esses motivos citados, ainda pode cair uma chuva no dia e acabar de vez com a esperança do músico levar gente para ir assistir o seu show!

Mas estamos aê, nessa batalha, pois onde ainda existe amor, existirá sempre a vontade de dar mais um passo a frente!

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