Em 1991 o então presidente da Electronic Arts, Trip Hawkins, surgiu com a ideia de criar um console que fosse uma verdadeira central multimídia — nele você não só poderia jogar os games mais avançados da época, como ver filmes no formato de VCD, escutar músicas e até visualizar suas fotos. Neste mesmo ano Trip, em sociedade com mais sete companhias, cria a 3DO Company e dá início ao projeto.
A 3DO Company tinha um intuito de lançar um console poderosíssimo usando a mídia de CD Rom — que engatinhava na época com o Mega CD e o PC Engine. A empresa não fabricaria o console, a ideia era deixar aberto para que outras empresas o fabricassem, ganhando assim somente os royalties, do mesmo jeito que já era feito com os aparelhos de VCR (tecnologia criada pela JVC) e, posterior mente, os DVDs e Blu-Ray players.
Além disso, para atrair as empresas third parties, a 3DO Company cobrava uma taxa ínfima de royalties, apenas três dólares. Enquanto as outras empresas cobravam, geralmente, 20 dólares de taxa. Tudo programado para abrir a próxima geração de consoles.
Todo esse plano de desenvolvimento parecia perfeito e faria o 3DO grande no mercado, porém ele tinha muitas falhas que gerariam graves consequências para a sobrevivência do videogame no mercado.
Lançamento desastroso
Após pôr em prática a ideia, em outubro de 1993 surge o primeiro modelo. A Panasonic, primeira empresa a desenvolver o 3DO, lança o 3DO FZ-1, com toda arquitetura 32-bits determinada pela 3DO Company. O modelo inaugura a 5ª geração de consoles (embora haja controvérsias quanto a este título) e foi um salto tecnológico diante suas rivais. Possuía um poder gráfico surpreendente.
Porém, devido a vários erros mercadológicos, seu lançamento foi um desastre. O primeiro, e maior deles, foi o preço. No seu lançamento o Panasonic FZ-1 foi vendido por assustadores 699,00 dólares. Para ter ideia, o preço de lançamento do NeoGeo era de 649,00 dólares. Atualizando o preço do 3DO de acordo com a inflação, hoje seu valor de lançamento seria de 1.165,10 dólares, ganhando o título de videogame mais caro da história.
Isso afugentou grande parte do público e elitizou o 3DO. O aparelho vendeu até bem nas primeiras semanas, mas a empresa se recusava a baixar seu valor, alegando, arrogantemente, que tal preço se justificava por não se tratar de apenas um videogame, mas sim de um sistema de altíssima qualidade e único console verdadeiramente 32-bits no mercado.
Isso fez com que a grande maioria dos consumidores permanecesse com seus 16-bits, pois já possuíam uma excelente biblioteca de jogos. Além disso, Sega e Nintendo já vinham reduzindo o preço de seus aparelhos visando ao lucro nos seus jogos. Diferentemente da 3DO Company, que buscava o lucro na venda de seus consoles, o que foi outro grande erro de mercado. Para finalizar, meses depois a Sega lançaria o seu próprio 32-bits, o Sega Saturn, e a Sony lançaria o PlayStation, mudando completamente o mercado de consoles caseiros.
Potencial mal aproveitado
O 3DO era uma máquina poderosa na época do seu lançamento, possuía um processador geral RISC modelo ARM60 de 32-bit, com parte gráfica baseada em dois processadores para animação e gráficos. Tinha dois megabytes de DRAM, um megabyte de VRAM, e um drive de CD-ROM de dupla velocidade (no NeoGeo CD essa velocidade era de 1x), e que além dos jogos, rodava também Photo CDs e VCDs.
Porém todo esse potencial foi muito mal aproveitado pelas produtoras, o que resultou em alguns bons jogos (uns excelentes) e uma enxurrada de jogos terríveis. Dos jogos que aproveitaram bem a capacidade do 3DO podemos citar o The Need for Speed, Road Rash,Gex, D e o Super Street Fighter II Turbo.
Jogos excelentes, porém, nem tantos
Dos bons jogos podemos destacar: The Need for Speed, que impressionava com seu realismo e suas cutscenes. Vale destacar que este foi o debute da franquia, feito pela Electronic Arts em parceria com a revista Road and Track, e foi um dos maiores destaques do console e logo depois teve seus ports para o Saturn e o Playstation. Gex foi desenvolvido pela Crystal Dynamics — seria a mascote da plataforma, porém, com a descontinuação do console, logo ele migrou para o PlayStation. Já o Road Rash teve sua melhor versão no 3DO, com gráficos incríveis, trilha sonora fantástica e jogabilidade desafiadora, tornando-se um dos melhores jogos do console. Inclusive, as versões do PlayStation e Saturn são exatamente iguais à do 3DO.
D, desenvolvido pela WARP, foi um jogo que explorou muito bem a capacidade gráfica do videogame, seus gráficos são de impressionar de tão belos. Não à toa teve sua versão para o PlayStation e depois uma continuação para o Sega Dreamcast. Para finalizar, muitos apontam a versão de Street Fighter II Turbo do 3DO como a mais fiel aos arcades e também a melhor já feita.
Nas linhas FVM e tiro em primeira pessoa, que estavam em alta na época, pode-se destacar Crime Patrol e Mad Dog McCree — produzidos pela American Laser —, bem como Killing Time e The Escape From Monster Manor. O console também teve ótimas versões de jogos de PC, tais como Alone in the Dark 1 e 2, Doom, Wolfenstein 3D, Myst e Cyberia.
Mas, mesmo com todo esse potencial, o 3DO teve uma grande quantidade de jogos horríveis em sua biblioteca. Muitos pareciam jogos mal elaborados de 16-bits, outros, de tão ruins, eram injogáveis (se é que existe esse termo). Nesse panteão incluem-se Shadow: War of Succession (um péssimo clone de Mortal Kombat) e Plumbers Don’t Wear Ties (o nome já diz tudo). Além de montes de jogos com apelo erótico que afundaram mais ainda o nome do console.
Pioneirismo:
Muitos atribuem o 3DO como sendo o primeiro videogame de 32-bits. Porém outros dois consoles reivindicam tal título: o Amiga CD32, lançado em setembro de 1993; e o FM Towns Marty, lançado em fevereiro de 1993 pela Fujitsu, porém, por possuir um CPU Intel 80386, que não é um processador totalmente de 32-bits, uma vez que suporta apenas barramento de 16-bits, muitos o desconsideram como um verdadeiro 32-bits.
Erros e um fim melancólico
A 3DO Company tinha uma ideia revolucionária para o seu console, porém muitos erros foram cometidos desde o seu lançamento. Principalmente pelo seu valor astronômico e os contratos com as desenvolvedoras, o que resultou no valor absurdo do aparelho e na enxurrada de jogos horríveis.
A empresa esperava lucrar com seu console, não com seus jogos. Foi exatamente na contramão do que estava funcionando no mercado. Além do mais, sua arrogância em não mudar de estratégia e diminuir o valor do videogame ajudou a afundar mais ainda. Somente em 1995 a empresa resolveu fazer isso, mas já era tarde, a Sony já dominava o mercado com seu PlayStation e a Sega já havia lançado o Saturn, e suas vendas caíam vertiginosamente.
Em 1996, após quase três anos de vida, o console foi descontinuado. A empresa de Trip Hawkins chegou a anunciar um novo console que se chamaria M2, porém, com o fracasso do 3DO Interactive Multiplayer o projeto foi cancelado.
A 3DO Company ainda resistiu um tempo produzindo jogos como Army Men e Might and Magic, mas em 2003 declarou sua falência. Dispensou todos os seus funcionários sem pagamento e toda sua propriedade intelectual foi vendida para os seus rivais. Um final melancólico para uma empresa que sonhou alto demais e caiu por sua soberba.
Para quem quiser conhecer melhor o console sugiro os seguintes jogos:
- The Need for Speed
- Road Rash
- D
- Captain Quasar
- Flashback
- Out of This World
- Wing Commander
- Cyberia
- Killing Time
- Mad Dog McCree
- Crime Patrol
- Return to Fire
- Strahl
- Gex
- Samurai Shodown
- Street Fighter II Turbo
Mantenha distância:
- Plumbers Don’t Wear Ties
- Shadow: War of Succession
- Primal Rage
- Quarantine
- Rise of the Robots
- Mazer
- Virtuoso
Revisão: Vitor Tibério
Originalmente publicado em GameBlast