Lembro o dia em que estava sentada no parque com minha filha. Uma mãe se sentou ao meu lado e começou a fazer uma série de perguntas sobre por que ela não andava. Depois vieram as comparações. Mãe de primeira viagem, fui embora preocupada. Esse tipo de situação ocorre diariamente.
Os anos de maternidade e a experiência me ensinaram que:
- Segundo muitos estudos, a melhor maneira para que as crianças tenham uma boa base de aprendizado é deixá-las explorar livremente;
- A aquisição de aprendizados e destrezas não é uma competição;
- É importante aceitar o filho que temos e aprender a não compará-lo com os demais. Cada criança é única, e seu desenvolvimento nunca será igual;
- A maioria das crianças florescerá à sua maneira e no seu tempo — e não vai acontecer nada demais;
- Com frequência, nós adultos esperamos e exigimos que as crianças alcancem habilidades antes de adquirirem a capacidade e a maturidade para isso.
O ritmo da vida que levamos, a pressa, os comentários dos outros e a pressão do tempo nos levam a ter sete crenças muito comuns sobre o desenvolvimento dos três primeiros anos:
1. É preciso sentar os filhos ou colocá-los para andar, pois assim vão aprender.
A pediatra húngara Emmi Pikler defendia o desenvolvimento motor espontâneo. As crianças conseguirão evoluir em seus movimentos de maneira natural, sem a necessidade de que o adulto as ajude. Se o adulto interfere, a criança poderá pular etapas como engatinhar, fundamental para seu desenvolvimento psicomotor. A pediatra também diz que é prejudicial para os pequenos realizar certos movimentos quando não estão prontos.
Deixar o bebê o maior tempo possível no chão é muito importante, assim como oferecer o material e o espaço.
2. Temos que tirar a fralda.
Fralda não se tira; fralda se deixa quando a criança já tem a maturidade física e psicológica necessária. Não é uma questão de idade.
3. As crianças devem aprender a dividir.
Antes dos três anos, uma criança tem grande dificuldade para se situar numa perspectiva diferente da sua (egocentrismo Piaget). Até então, ela só desenvolveu a linguagem e se encontra numa etapa precoce de socialização. Aos dois anos, as crianças começam a brincar com outras, mas sem levá-las em conta. Dizemos que brincam em paralelo. Também precisam ter privacidade, e os seus espaços devem ser respeitados.
4. É preciso deixá-las ocupadas o tempo inteiro.
A brincadeira é uma ferramenta indispensável na aprendizagem das crianças. Quando acontece sem muita intervenção do adulto, fomenta a criatividade, promove a autoestima e contribui para o desenvolvimento da autonomia, além de ser um excelente canal de expressão de sentimentos e ajudar a entender melhor o mundo ao redor.
5. Autocontrole e regulação de emoções.
Muitas vezes, tentamos fazer com que a criança reprima seus sentimentos. O choro dela com frequência nos incomoda, e lhe dizemos de forma reiterada: “Não chore!” Nessa etapa, porém, ela não conta com as ferramentas necessárias para regular suas emoções. Tampouco entende ou está preparada para o autocontrole.
6. Crianças devem aprender a dormir sozinhas.
Os pequenos não aprendem a dormir, de modo que não é preciso nenhum método. O sono é um processo evolutivo. Estudos demonstram que alguns métodos aplicados nas crianças, como o famoso Estivill, repercutem negativamente no sistema de resposta ao estresse e as deixarão mais propensas a ter alguma patologia no futuro.
7. Ensinar as crianças a desenhar segurando sua mão.
É necessário deixar que as crianças desenhem livremente. Tentar ensiná-las a desenhar diminui sua criatividade e espontaneidade.
Segundo o educador francês Arno Stern, se interrompemos uma criança enquanto desenha e lhe perguntamos O que você está desenhando?, ela começará, enquanto nos explica, a pensar que deve fazer as coisas para os outros, não para si mesma. A criança não deve estar condicionada a buscar a aprovação do adulto.
A estimulação precoce é muito importante nos primeiros três anos de vida, mas não se trata de acelerar ou forçar a aprendizagem. Não apressemos as crianças com certos aprendizados que vão adquirir de forma natural.
Acompanhamento, soltar sem abandonar, preparar o ambiente e os materiais, grandes doses de paciência e aceitação são as chaves para um bom desenvolvimento.
Ruth Alfonso Arias é educadora infantil e educadora de famílias em Disciplina Positiva.
Fonte: Jornal El País
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