Crônicas da Velha Ribeira (35)

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Houve um tempo em que a rapaziada menos endinheirada natalense não dispensava uma “esticada” a esta Velha Ribeira, geralmente após as dez da noite quando, usualmente, terminava o “expediente” na casa das namoradas.

Pois era aqui que funcionava a maioria das “pensões alegres”, alvo daquela casta porque a pensão de Maria Boa, que ficava na rua Padre Pinto, no Baldo, não era coisa p´ra cabra de poucas posses.

Mas, a Velha Ribeira não oferecia somente os cabarés, como alternativa para quem desejava explorar os mistérios do sexo.

Porque ao longo de suas calçadas e praças, existia o chamado “trottoir” das “mariposas” que “trabalhavam” livres e, até mesmo o das que não eram mariposas, mas que, eventualmente andavam por cá, na esperança de quem as amasse.

Evidentemente, livre de pagamento.

Estas, eram o alvo preferido daquele vendedor de carros usados que morava p´ros lados das Rocas e o cabra, após o costumeiro papo numa roda de amigos, no Grande Ponto, sempre dava um “bordo” naquelas calçadas e praças antes de ir p´ra casa e, invariavelmente encontrava uma senhorita disposta a acompanha-lo aos Coqueiros, famosa casa de “recurso” alí p´ras bandas do Jacó.

Numa determinada noite em que ele procurava esse tipo de companhia, a caça tava escassa – sem trocadilho – e após algumas voltas em seu carro do dia – sim, porque o sujeito era vendedor de um carro só, que adquiria e usava até aparecer um comprador – um Prefect preto, já ia entregando os pontos quando, na calçada do SAPS, esquina da Rio Branco com Tavares de Lira, viu uma moreninha pequenina e meio rechonchuda. Parou o caro e deu a cantada, que foi aceita e rumaram direto aos Coqueiros, cujo cenário era bem modesto.

Nada parecido com os luxuosos motéis de hoje, com ar condicionado, banheiras de hidromassagem e que tais.

Apenas uma cama tosca, uma bacia com água nova, um pedaço de sabão, um pano à guisa de toalha – também conhecido como “cacheiro” e…Um penico, que ficava embaixo da cama, compunham a guarnição dos quartos, nos Coqueiros.

Quando livraram-se das roupas e o camarada, embriagado pela beleza da crioula, quis logo ir aos “finalmente”, a sujeita, passando a mão na barriga, anunciou que primeiro, precisava “aliviar-se” porque tinha passado o dia na casa de uma tia, no bairro das Quintas, onde foi servido uma buchada de bode regada à cachaça…

Bateu mão do penico e o encheu até as bordas, com o produto excedente da buchada e da cachaçada, “perfumando” não só o ambiente do quarto onde estavam, mas, também, as demais dependências da nobre casa dos Coqueiros, ensejando várias reclamações dos que ocupavam quartos vizinhos.

Consta que houve queixas à administração da casa, alusivas ao fato de que os reclamantes – em razão do odor nauseabundo que emanava daquela dependência ter invadido todo o prédio – não conseguiram levar em frente a empreitada a que se propunham e queriam seu dinheiro de volta…

Mas, de sua parte, o vendedor de carros garante e jura de pés juntos que fez o serviço assim mesmo. Mesmo estando no epicentro da onda odorífera!

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