A recente prisão de Julian Assange e a perseguição ferrenha aos whistleblowers* denotam uma completa inversão de valores. Sim, pois o que se vê abertamente nestes casos é que não são os praticantes de crimes contra a humanidade que estão sendo caçados e presos pela Justiça, mas sim aqueles que denunciam tais violações inaceitáveis. Tudo isso com a chancela do Estado.
O Wikileaks de Assange revelou, por exemplo, um vídeo mostrando um ataque norte-americano contra funcionários da agência de notícias Reuters e civis em Bagdá, no Iraque. Apesar de comprovado e divulgado por veículos noticiosos de peso (El País, Le Monde, Der Spiegel, The Guardian e The New York Times, só para citar alguns), este fato absurdo até hoje não gerou sequer uma real investigação e muito menos a punição dos culpados. Porém, na contramão do esperado, os EUA se apressaram por iniciar a criminalização pública dos denunciantes e a perseguição implacável destes.
Assista ao vídeo do ataque norte-americano a civis e jornalistas:
Edward Snowden foi outro whistleblower emblemático que trouxe à tona, em 2013, violações dos direitos civis praticadas pelos EUA e Inglaterra. Também com a ajuda do Wikileaks e o apoio de vários jornais do mundo todo, revelou o esquema de espionagem em massa utilizado contra cidadãos, empresas, presidentes e ministros de outros países, o que levou os governos americano e britânico a uma berlinda diplomática sem precedentes. Ainda assim, após a poeira baixar, tudo resultou no mesmo: nenhum culpado punido e Edward Snowden se tornou um refugiado com a cabeça a prêmio. Detalhe: em 2017 o Wikileaks vazou 8.761 documentos comprovando que a arapongagem americana seguia a todo vapor, desta vez utilizando os sistemas operacionais da Apple e do Google, além de smartTVs da Samsung, com o intuito de espionar mensagens e promover escutas.
Diante do cenário que este século vem delineando, o que mais assusta não são as prisões dos heróis em detrimento da impunidade dos reais bandidos. Nem mesmo que estes se abanquem nos mais altos cargos de poder, comandando o destino de tantos, mas sem possuir sequer minimamente a grandeza moral para tanto. O que realmente tira o sono é a possibilidade de que sejam silenciadas, por cansaço ou desesperança, as vozes daqueles que clamam por justiça e denunciam os crimes ocultos praticados nos mais altos escalões. Sim, pois quando e se isto acontecer, saberemos que a humanidade se transmutou em mero gado tangido.
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