Comecei a jogar videogames na segunda metade da década de 1980, quando meu pai trouxe um Philips Odyssey — ou Odyssey² — para casa. Mas, como a maioria dos jogos da 2ª geração, haviam pouquíssimos jogos com finais.
A maioria dos jogos do Odyssey² tinham como maior objetivo bater recordes, e os desafios eram feitos com a molecada do bairro. Lembro de inúmeras vezes quebrar o controle do Odyssey² porque morria logo e não conseguia ultrapassar a pontuação do meu irmão no Senhor das Trevas.
Mesmo assim, pouquíssimos jogos do Odyssey² nos davam a opção de competir com a máquina, como era o caso de Interlagos, Duelo no Velho Oeste, Alien! e Em Busca dos Anéis Perdidos (quando deixávamos a própria máquina assumir o papel de Senhor dos Anéis).
Mas, por ser um console bastante rudimentar, nós não tínhamos a história bem definida dentro do jogo, por isso, até havia um capricho nos manuais do Odyssey contando toda história do jogo, e tampouco tinham as famosas telas finais, mostrando a imagem do herói resgatando a mocinha ou salvando o mundo. Simplesmente quando vencíamos o Odyssey, o jogo parava, então, bastava apertar o reset e começar tudo de novo.
Porém, esta sensação de sentir-se desafiado, de realmente jogar um game com um objetivo na cabeça, e realmente adentrar-se na história do jogo, veio com a 3ª geração de consoles. Ela mudou o modo de ver os videogames, trouxe novos desafios e nos fez criar um novo termo que virou sinônimo de objetivo. Agora, os jogos vieram a nós para podermos, finalmente, zerá-los.
O primeiro jogo zerado
O jogo não era difícil, aliás, bem mais fácil que a sua versão original dos Arcades, porém, o número limitado de vidas e a falta de continues deixavam um pouco mais complicadas as minhas tentativas de salvar Athena das garras do nefasto Neff.
Foi minha impaciência infantil e a ânsia de jogar logo o game que não me deixaram atentar a um detalhe. No próprio manual do jogo, nas fitas Tec Toy, havia no final uma sessão chamada Dicas úteis (poderia ser mais óbvio) e na do Altered Beast tinha uma muito boa: como conseguir “continues”.
O próximo desafio: Black Belt
Levei um tempo pra descobrir essa manha do jogo, no começo eu ficava parado tentando enfrentar os adversários que apareciam na tela, mas sempre apareciam mais e eu acabava cercado por eles sem poder me locomover.
Uma vez descoberta a manha do correr e bater, o próximo passo foi descobrir como derrotar os sub chefes e os chefes, e nesse quesito irei destacar dois que me deram muito trabalho: Gonta e Oni.
Gonta até hoje me dá um certo trabalho, com ele eu precisava ser preciso nos saltos e não podia deixá-lo me acertar, pois seus golpes são muito fortes e tiram muito dano. Já Oni foi um caso a parte, demorei muito para descobrir uma maneira de acertá-lo, as dicas que vinham no manual não ajudava muito e, na raça, acabei descobrindo seu ponto fraco.
O maior problema com ele era a sua guarda sempre levantada e quando atacávamos, Oni era muito rápido em defender e desferir um contra-golpe, com isso, ele sempre me derrotava, até descobrir seu segredo. Não adiantava atacá-lo, o único jeito de ganhar dele era esperando seu ataque, nesse momento contava a agilidade com o controle, pois, ao atacar, Oni abaixava a guarda por alguns milésimos de segundo, então eu deveria ser rápido o suficiente para desviar do seu ataque e contra-atacar com um soco. Bingo! Descobrindo isso, Oni foi derrotado e hoje passo por ele sem dificuldade.
Quando zerei o Super Mario Bros. 3
Foi até complicado, pois o jogo não tinha saves e tínhamos que enfrentar na raça, quer dizer que, um game over e já era, tínhamos que começar tudo de novo. Semanas jogando e já estávamos avançando bem, mas quando chegamos na Pipe World o negócio empacou.
Mas foi graças às boas revistas da época que descobrimos o caminho, era uma Supergames que vinha debulhando o Mario, dava dicas de como passar das fases e ainda de como conseguir itens secretos, inclusive as flautas mágicas. A partir daí, chegar no Castelo do Bownser foi moleza.
Chegar ao Bownser foi um pouco mais difícil, levou o final de semana todo até enfrentarmos o monstrengo. Nesse dia em especial contávamos com um apoio, um primo de Fernando que morava em Recife passava férias na sua casa. Finalmente, com muito esforço, conseguimos derrotar o algós da Princesa Peach e resgatá-la, porém, a alegria foi tanta que o primo de Fernando começou a pular, num desses saltos ele pousou no fio do joystick fazendo derrubar o Phantom System. Foi uma sessão de xingamentos, primeiro por acharmos que o videogame havia morrido na queda, o que não aconteceu, segundo por termos perdido a tela final do jogo, foi uma decepção.
Na outra semana conseguimos chegar ao Bownser e derrotá-lo, desta vez sem euforia, ficamos apenas parados observando aquela tela final, a qual a Princesa agradece ao Mario por libertá-la e logo depois um retrospecto das fases que passamos até o resgate da Princesa. Finalmente conseguimos desfrutar o gosto da vitória e a sensação de orgulho pelo resgate da Princesa Peach.