Fora do Mais Médicos, cubanos trabalham como balconistas em farmácias do RN

Com 26 anos de experiência como médica, Zuzel Ramos Rodriguez vive uma nova experiência profissional. Fora do programa Mais Médicos desde o final do ano passado, quando o governo federal encerrou a parceria com a Organização Panamericana de Saúde (Opas), ela conseguiu emprego como balconista de farmácia no bairro Abolição I, em Mossoró.

Ela não é um caso isolado. Sem o processo de revalidação dos diplomas, pelos menos três profissionais cubanos que atuavam na cidade e resolveram ficar no Rio Grande do Norte após a saída de Cuba do programa estão trabalhando em farmácias, ganhando um salário mínimo mensalmente.

“O processo do Revalida de 2017 só acabou agora e nós estamos esperando abrir o novo edital para revalidar nossos diplomas e poder atuar”, diz a médica, que chegou a Mossoró em 2014. Ela se casou e se estabeleceu na cidade.

Apesar das dificuldades, Zuzel não reclama do novo emprego. “É uma experiência boa, porque já conheço nomes de medicamentos genéricos e tenho conhecido outros. Não era o que eu estava acostumada, mas eu gosto”, conta.

Com 26 anos de experiência, dra. Zuzel Ramos Rodriguez é uma entre médicos cubanos que viraram atendentes de farmácia no RN — Foto: Cedida

Reconhecidos por antigos pacientes, os médicos sempre são abordados por pessoas que querem fazer uma consulta, mas lembram que não podem exercer a profissão enquanto não fizerem a revalidação do diploma. “Não podemos fazer consultas, nem receitar remédios”, lembra Yoanis Infante, outro profissional que também virou balconista.

Yoanis trabalha há dois meses em uma farmácia do bairro 12 Anos – o mesmo no qual ele atuava como médico de saúde da família, pelo Mais Médicos. Com alguns descontos, por não ter trabalhado o primeiro mês completo, recebeu R$ 650 de salário. “Trabalho por comissão, mas se não alcanço o salário mínimo, a farmácia completa, Tem os descontos como INSS”, diz.

O médico reclama porque diz que há vagas disponíveis no programa, porém, o governo não abriu oportunidade para os profissionais cubanos que decidiram ficar no país. “Disseram que os médicos que quisessem ficar poderiam fazer revalidação e continuar no programa, mas isso não aconteceu. Só abriram para brasileiros com CRM e brasileiros que se formaram no exterior. Alguns até já abandonaram as vagas, mas não deram oportunidade para nós”, diz.

Dr. Yoanis Infante, médico cubano que ficou no Brasil após saída do Mais Médicos, atendendo clientes de farmácia em Mossoró — Foto: Cedida

Nesta sexta-feira (5), o Ministério da Saúde informou que um dos médicos contratados no último edital para preencher as vagas aberta pela saída dos cubanos em Mossoró deixou o cargo. Ao todo, foram 19 no estado. Porém, de acordo com Yoanis, há pelo menos três vagas abertas na cidade.

O Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado afirmou ainda na sexta que está fazendo um levantamento junto às prefeituras para ter uma dimensão do déficit no estado.

Imagem: cedida
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