Crônicas da velha Ribeira (32)

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A paixão é um sentimento esquisito, conforme exemplos universais o comprovam. Teve o lorde inglês que abriu mão do trono real por conta de uma divorciada americana que não era das mais bonitas e um seu sobrinho-neto que trocou a princesa jovem e muito bonita por uma “coroa” bem mais “entrada nos anos”…Consta que o cronista, escritor, radialista e compositor Sergio Porto que tornou-se famoso pelo pseudônimo Stanislaw Ponte Preta e convivia em estreita intimidade com algumas das mulheres mais bonitas do Brasil, conhecidas como “as certinhas do Lalau”, apaixonou-se por uma dona que costumava “brincar” com outros num quarto de hotel enquanto ele enchia a cara, no bar do mesmo hotel.

Assim, é compreensível que aquele auxiliar de caixa da Caixa Econômica tenha se apaixonado perdidamente por “Nêga” Teresa, dona de um cabaré na Ribeira, cabrocha que devia ter sido muito bonita na juventude porque ainda conservava traços daquela beleza, mesmo já tendo dobrado a curva dos quarenta. Apesar de sua atual condição de “empresária”, quando não mais precisava comercializar o corpo para ganhar a vida, vez por outra ela dava uma “faturada”. Mas, somente se isso fosse de seu particular interesse. Agora, era uma mulher cara e não mais prato para todo peão. Portanto, estava fora do alcance daquele modesto funcionário, cujo salário mal dava para o sustento da família – que já era numerosa. Mas o cabra apaixonou-se com tal intensidade, que não conseguia para de pensar nela. Queria tê-la, possui-la e o desejo virou obsessão. Mas, cadê o dinheiro p´ra banca-la?

Um dia, substituindo o caixa titular, o destino resolveu ajuda-lo.

Sobrou determinada quantia no fechamento de seu movimento. E por uma dessas normas absurdas que norteiam a burocracia nacional, as sobras de caixa eram contabilizadas numa conta de compensação e, se passados seis meses, o dinheiro não fosse reclamado, era creditado à conta do funcionário.

Pois o sujeito esperou seis meses, meio ano, por aquele dinheiro. Exclusivamente para transar com “Nega” Teresa, que o ignorava olimpicamente quando ele se “derretia” p´ra ela, nas ocasiões em que entrava na Caixa.

No dia em que o tutu foi creditado, nem bem encerrou-se o expediente o cabra correu p’ro cabaré e anunciou seu propósito. Ela resolveu tripudiar:

– Só vou por tanto, anunciou de venta empinada e cobrando muito caro. Mas o dinheiro dava e ele emendou: – Eu quero!

– É, mas tem que fazer a “vaca” (na gíria dos cabarés, pagamento adiantado)

– Eu faço, taqui a grana. Treplicou ele.

Vencida, “Nêga” Teresa levou-o p’ro quarto. Todo o tesão recolhido durante aquela longa espera aflorou naquele momento e ele partiu p´ra cima com a disposição de um touro. Ela espantou-se com a vitalidade erétil daquele camaradinha insignificante que andava se balançando p´ro seu lado toda vez que ia à Caixa e até gostou da primeira parte do combate, quando andou pelas nuvens uma ou duas vezes. Mas o home queria mais e mais! Inventou de fumar um cigarro, inventou de fazer xixi, inventou mil coisas. Mas o sujeito sempre alí, duro,rígido…E querendo mais! E “Nêga” Teresa chegou ao seu limite. Porém, “pedir o penico”, jamais!

Correr da raia não ficava bem para sua reputação. Mas ela não aguentava mais, mesmo. Bolou um plano: disse que ia pegar um cafezinho, refugiou-se na cozinha e enquanto recuperava o fôlego, deu com uma crioula recém chegada para “trabalhar” em sua pensão.

– Menina, vai alí no meu quarto e vê se apaga o fogo daquele desgraçado. Tá muito escuro e é capaz dele nem notar que num sou mais eu.

A escurinha foi, mas, ao entrar no quarto, o camarada, nu e sentado na cama, dobrou-se sobre as pernas para riscar um fósforo, protegendo a chama com a mão antes de acender o cigarro. De olhos arregalados, ela fez meia volta:

– Patroa, o diabo é quem vai lá. O home agora tá tirando fogo da cabeça do pinto!!!

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