A evolução dos jogos de futebol nos videogames (parte 2)

A era 16 bits começa e o seu avançar tecnológico influenciou muito os jogos de futebol. Essa geração trouxe uma gama enorme de títulos baseados no esporte bretão e, consequentemente, ampliou muito nossas opções.

O Mega Drive da Sega foi o primeiro desta geração e de cara já trouxe com ele um clássico da molecada nas locadoras e playgames. Afinal, quem do início dos anos 90 nunca entrou em um estabelecimento desses e escutou os sons típicos dos jogos do Mega, dentre eles os que mais se ouviam eram o característico tema da Green Hill Zone, do primeiro Sonic, e também o tema de World Championship Soccer, ou Super Futebol, como foi lançado aqui pela Tec Toy.

World Championship Soccer (Mega Drive) primeiro vício dentro das locadoras

Quando o Mega Drive chegou ao Brasil, e com ele veio o World Champion Soccer, virou uma febre nas locadoras, afinal nunca se tinha visto gráficos e sons como aqueles antes. O jogo demonstrou um pouco do poder da nova geração que acabara de chegar. Um som incrível e gráfico bem realista para a época fizeram muita gente se viciar no futebol do console da Sega.

O game tinha uma visão superior e a dimensão do campo era proporcional ao verdadeiro. Isso dava a impressão, para quem jogou na época, de estar realmente acompanhando aquele jogo, dava uma sensação de imersão fantástica, principalmente para aqueles que estavam acostumados com os “minicampos” que a maioria dos jogos 8 bits traziam.

Porém, quando nos acostumávamos ao game, e descobríamos todos os modos de se fazer gol, o local certo de se chutar a bola, o canto exato de lançar a bola para o centro avante cabecear, o jogo se tornava muito fácil, era comum terminar uma partida com um placar acima dos 10 gols(7 a 1 era fichinha nele). Por conta disso o jogo tinha um grau de dificuldade muito baixo, apesar do nível de diversão ser bom.

Super Formation Soccer 94 (Super Nintendo) trazia você para dentro do campo
Já a Human Entertainment, aproveitando o poderio da tecnologia do Mode 7 do Super Nintendo, trouxe um game que nos deixava com a visão dos jogadores de futebol, ou seja, dentro do campo, o Super Formation Soccer 94.

Este jogo revolucionou com esta visão, trazendo uma nova perspectiva para os aficionados pelo esporte. Sua jogabilidade ainda é muito arcade, com “chutões” para frente, pouco esquema tático e várias seleções com jogadores genéricos, porém tinha um nível de dificuldade bem maior e o nível de diversão era grande. É um ótimo jogo para reunir os amigos e fazer um campeonato.

O nascimento de uma rivalidade: EA Sports e Konami

Em 1993 a Electronic Arts consegue a autorização do uso da imagem da FIFA, assim nascendo o primeiro FIFA International Soccer pela EA Sports. O jogo tentava ser mais fiel possível ao simular um verdadeiro jogo de futebol. O primeiro FIFA tinha uma visão isométrica do campo dando uma impressão de tridimensionalidade.

Outras características foram implantadas como uma real influência do esquema tático. Os jogos anteriores, apesar de terem modificações táticas, como do esquema (4-4-2, 4-3-3, etc), isso pouco influenciava na partida, uma vez que a maioria tinha uma jogabilidade estilo arcade e o que valia era “chutão” para frente.

Embora a EA Sports tivesse a autorização da FIFA, ela não logrou êxito em conseguir a autorização do uso de imagem dos jogadores, e até o FIFA 95 foram usados nomes genéricos, onde, na seleção brasileira, podíamos contar com os gols do craque Janco Tianno.

No FIFA o esquema tático influenciava, podíamos alterar tanto a formação da equipe, como o posicionamento dos jogadores e se a equipe iria ser mais defensiva, ofensiva ou equilibrada no meio campo. A Electronic Arts reinou absoluta neste quesito até que em 1995 a Konami traria um jogo que rivalizaria com o FIFA.

Em 1995 a Konami lança o International Superstar Soccer para o Super Nintendo. Com uma pegada mais arcade e muito mais dinâmico que o futebol da Electronic Arts, logo o futebol da Konami ganharia muitos fãs e dividiria os aficcionados entre os “fifeiros” e os fãs de ISS.

Com uma visão mais lateral e um ritmo bastante frenético o ISS se tornou uma paixão, principalmente na América Latina, não só pelos gráficos e seu ritmo alucinante, como a opção de se fazer belas jogadas. Afinal quem nunca tentou humilhar os adversários parando no meio do jogo para fazer umas embaixadinhas no melhor estilo Edílson, além dos golaços feitos pelo o eterno ídolo Allejo.

Com o passar do tempo a franquia da Konami iria mudar algumas vezes de nome, primeiro virou o Winning Eleven quando chegou ao PlayStation 1 até virar, em definitivo, o Pro Evolution Soccer, o aclamado PES, aumentando mais ainda a rivalidade com o FIFA Soccer.

Um monstro da SNK chamado Super Sidekicks (Neo Geo)

A quarta geração pode ter sido dominada pela Sega e Nintendo, mas nenhum jogo de futebol desta geração chegou perto do Super Sidekicks. O poderosíssimo hardware do Neo Geo estava muito à frente dos seus concorrentes e foi nele que veio esse impressionante jogo.

Lançado primeiramente em 1993 o jogo parecia uma perfeição. Com todo o poder de uma verdadeira máquina de fliperama, o Super Sidekicks era muito disputado nas locadoras, nos Playgames e nos arcades.

Com uma visão lateral, gráficos impressionantes, sonoridade perfeita, um ritmo alucinante e nível de dificuldade bastante desafiador, o jogo passou a ser um sonho de consumo entre os gamers da época. Alguns poucos abastados que tiveram a chance de comprar um Neo Geo puderam aproveitar este maravilhoso futebol arcade em casa, os demais tiveram que se contentar entre as locadoras, fliperamas ou aquele seu amigo rico.

Último jogo de Copa do Mundo antes do monopólio da EA Sports

Em 1994 a U.S. Gold lança aquele que seria o último jogo baseado em uma Copa do Mundo antes da EA Sports se tornar detentora única da licença, o World Cup U.S.A. 94.

Lançado para Mega Drive, Super Nintendo e Master System, o jogo trazia a temática da Copa do Mundo dos Estados Unidos (aquela do “É tetra!”), mas, assim como o World Cup Italy da Sega, se resumiu aos símbolos da Copa.

Mesmo assim o jogo não foi muito bem recebido, tinha uma visão por cima do campo, algo que já estava ultrapassado, e uma jogabilidade muito simples, sem muitos desafios. O game era muito fácil, era comum terminarmos uma partida goleando a máquina, sendo ele preterido por muita gente. Aqueles que tiveram uma cópia foi somente pelo clima de Copa do Mundo que existia, uma vez que o FIFA Soccer já estava no mercado e trazia um nível de diversão bem melhor que o World Cup U.S.A. 94.

Geração 32 bits e a polarização da EA Sports e Konami

A chegada da 5ª geração foi uma revolução, trouxe o mundo 3D, cenários abertos e os polígonos. Toda essa nova tecnologia abriu as portas para enriquecer ainda mais os jogos de futebol, com ela conseguimos entrar virtualmente nas grandes arenas. Apesar de ainda saírem bons jogos de futebol como o Worldwide Soccer (Sega Saturn) e o Actua Soccer (multi), essa geração ficou marcada pelo domínio da EA Sports e da Konami.

A EA Sports foi aproveitando bem a evolução tecnológica e o FIFA Soccer foi se tornando cada vez mais realista. Desde o FIFA 96 conseguiu a autorização para utilizar o nome e a imagem dos jogadores e a cada evolução o jogo ficou cada vez mais com cara de simulador tendo os jogadores que se virarem também nas formações táticas, substituições e posicionamento dos jogadores. Um erro poderia terminar numa derrota terrível.

Além disso, a EA Sports se tornou a única autorizada a lançar os jogos oficias da Copa do Mundo. O primeiro foi o FIFA 98: Road to World Cup France. Além das ligas nacionais esse jogo trazia o modo Road to World Cup, onde tínhamos que passar por todos os percalços de uma seleção para chegar à Copa do Mundo, tendo que enfrentar, inclusive, as eliminatórias. A não ser que você jogasse com o Brasil (campeão da última Copa em 1994) ou a França (dona da casa), nesse caso você passava direto para a Copa do Mundo.

Já a Konami que teve muita força com o International Superstar Soccer, inclusive com ótimas versões para o Nintendo 64, continuou a concorrer com a EA de igual com o Winning Eleven (PlayStation), uma evolução do ISS. O game começou focado na liga japonesa, a J-League, porém logo tomou o espaço do ISS na Konami e com a ajuda dos hackers e da pirataria, trazendo jogos com as seleções completas e narração em português (inclusive com atualizações até os dias de hoje, como vemos nos Bomba Patchs), o Winning Eleven logo ganhou muitos fãs, fazendo com que estes preferissem o futebol da Electronic Arts para ficar com a Konami.

Nas próximas gerações a Konami transforma o tão amado Winning Eleven em Pro Evolution Soccer, ou simplesmente PES. Este jogo iria bater de frente com o FIFA, pois além de trazer uma jogabilidade mais real e mais frenética que o FIFA, a Konami ainda conseguiu a autorização para utilizar o nome de grandes clubes do mundo e das seleções, inclusive com o uso do nome e da imagem dos jogadores. A partir daí o mundo do futebol virtual se dividiu entre “fifeiros” e “peseiros”.

Futebol é arte

Assim como os brasileiros transformaram o futebol em arte, a tecnologia conseguiu fazer o mesmo. Começou de uma maneira muito rudimentar, com apenas alguns quadrados em uma tela pintada e hoje chegamos num patamar tão realista que é capaz de enganar qualquer desavisado que passe em frente a uma TV com um FIFA ou PES ligado num PS4 ou Xbox One.

A tecnologia transformou em arte um dos esportes mais amados do mundo, beirando a perfeição cada detalhe posto nos campos virtuais.

O avanço tecnológico, a briga para superar os rivais, nos trouxe a cada geração um jogo mais fiel, mais apaixonante, indo até mais longe com os E-Sports com seus campeonatos milionários e verdadeiros atletas virtuais. Hoje é possível ver uma copa do mundo nos estádios reais e digitais, sendo um tão emocionante quanto o outro. E todo esse legado começou há mais de 40 anos, mais precisamente em 1972, com apenas alguns quadradinhos na tela.

Para ler a primeira parte clique AQUI

Revisão: Link Beoulve

Originalmente publicado em GameBlast

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