Essa é a história de uma adolescente, que chamaremos de Diana, alegre, cheia de vida, que conseguiu enfrentar o câncer com muita dignidade. Atualmente com 18 anos, demonstra gratidão e amadurecimento diante de todas as dificuldades que enfrentou durante o período de tratamento. Certo dia, ela chegou na sala do serviço social da Casa Durval Paiva e perguntou: “tia, posso contar uma história? ” E ao receber sim como resposta, iniciou sua narrativa.
Foi logo contando que é a mais nova de três irmãs, mora com o pai que trabalha na agricultura de subsistência e com a mãe que, além do trabalho doméstico, ajuda na criação de galinhas e cuida da pequena horta que mantém no quintal de casa, em um lugar muito tranquilo, na área rural do município de São Miguel, uma comunidade pequena, onde todo mundo se conhece.
Os pais, mesmo sendo semialfabetizados, sempre fizeram questão que as filhas estudassem e aproveitassem as oportunidades que eles nunca tiveram. Na época, pela manhã, as três irmãs deixavam a comunidade onde moravam com destino a sede do município para frequentarem a escola e à tarde participavam, duas vezes por semana, de um programa social que atendia crianças e adolescentes em vulnerabilidade social. A mais velha, de 15 anos, participava de curso de informática, a do meio, de 14 anos, não gostava muito dos cursos e Diana, com 13 anos, estava fazendo capoeira.
Uma tarde, na roda de capoeira ela se machucou e o joelho ficou muito inchado. Foi ao médico da cidade que lhe orientou fazer compressa e usar uma pomada para a dor. Diana fez o tratamento bem direitinho, mas nada da perna ficar boa. A professora sugeriu procurar um médico em Natal, achando anormal uma pancada tão pequena demorar mais de dois meses para voltar ao normal. Assim, voltou ao médico, que a encaminhou para Natal em busca de uma melhor avaliação. Chegando ao Hospital Universitário fez novos exames e foi encaminhada para a Liga onde recebeu o diagnóstico de Osteossarcoma, um câncer ósseo.
Inicialmente, muito assustada, não entendia direito o que estava acontecendo, mas sabia que era grave, porque a perna não sarava e via a mãe chorando escondido. Foram dias difíceis, muitas dores, sem poder voltar para casa, participar da capoeira, ver os amigos, as irmãs e o pai. Passou muitos dias no hospital, fez muitos exames, radioterapia e quimioterapia. Quando recebeu alta não pode ir para casa e foi encaminhada para a Casa de Apoio Durval Paiva. Chegou muito triste, porque na verdade queria ir ver todo mundo que deixou na sua cidade.
Quando chegou na Casa de Apoio percebeu que as pessoas eram tão boas como as do hospital. Lá o clima era leve, um lugar onde podia participar de atividades recreativas, festas, passeios, das aulas de música, desenho e da sala de aula, que permitiu a Diana não deixar de estudar durante o tratamento. Devido ao diagnóstico do câncer ter sido feito tardiamente, mesmo com o tratamento de quimioterapia e a radioterapia, Diana precisou amputar uma perna, mas pode reaprender a andar e se adaptar a sua nova condição, através dos exercícios de fisioterapia.
Com a ajuda de vários profissionais, Diana conseguiu perceber que sua limitação não a impedia de ser feliz e aprendeu a reescrever a sua própria história. “Então tia, a Casa Durval Paiva é um pedaço de mim. É exatamente isso, um lugar onde aprendi a ver as coisas com outros olhos, a me ver de outra forma. Que me ensinou que meu câncer, meu tratamento, a perda da minha perna foi um momento que precisei passar. Hoje estou mais forte e minha família também. Aqui vivi momentos felizes durante o período mais difícil da minha adolescência e, por isso, agora que consegui ser aprovada e vou cursar a faculdade vim compartilhar com vocês.”.
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