Em meados do ano 1960, o Delegado local do Ministério do Trabalho resolveu dar um arrocho nas agências bancárias da Capital. Na verdade, o trabalho nos bancos particulares muitas vezes entrava pela noite, sem o pagamento das horas extras sendo que, em algumas ocasiões varava a madrugada.
De repente, chegava um fiscal e era aquele corre-corre…
Os funcionários categorizados – gerentes, subgerentes, contadores, procuradores, chefes de seção e que tais, podiam legalmente estar no banco após a jornada normal. O resto, não. Ora, o “resto” eram justamente aqueles que operavam a conta-corrente, a cobrança e o fechamento do movimento diário, o chamado “razão”…
No início do “arrocho”, os fiscais vinham pessoalmente, mas, com o correr do tempo, passaram a telefonar, que ninguém é de ferro.
– Alô, é do banco tal?
– É, sim. Com o tempo, passou-se a dizer, “é não”, porque já se conhecia as vozes dos fiscais e aquela fração de minuto entre a primeira e a segunda ligação ensejava uma ação de debandada. Na segunda ligação, vinha a pergunta: – tem gente trabalhando aí a essa hora?
Tinha, sim. Mas a resposta era sempre, não senhor, só estão aqui os procuradores e o contador. O que era verdade, pois já se tinha mandado sair os demais. Porque era quase certo o fiscal vir conferir.
Nos dias de fechamento de balanço era um inferno.
Em certa ocasião, às dez da noite tínhamos encerrado o balancete mensal no Banco Nacional do Norte. Como se vê, o serviço era duro, mas nas jornadas estendidas o banco pagava o jantar nos restaurantes da cidade e, naquela noite resolvemos tirar um sarro com os colegas do Banco Nacional de Minas, recentemente instalado aqui, no térreo do edifício Bila, na Duque de Caxias, entre a sede do Banco do Rio Grande do Norte e a agência do Banco do Povo.
Antes de sair para o jantar, telefonamos p´ra lá e atendeu o contador. Ao fundo, o matraquear das máquinas indicava febril atividade. Eles tinham porta de correr e cerravam-na, para trabalharem sossegados.
– Olhe companheiro, aqui é do Ministério. Passamos há pouco por aí e a porta estava fechada, mas deu p´ra ver que tem gente trabalhando. Voltamos à repartição p´ra telefonar( Ah, se tivesse celular naquele tempo…). Mande abrir para fiscalizarmos.
Corremos à varanda do Grande Hotel e enquanto tomávamos umas “brahmas” geladinhas p´ra limpar o juízo e esperávamos o jantar, assistimos a negrada saindo de fininho, um a um, por uma brechinha na porta…