O jogo com a bola é milenar, existindo registro dele desde a civilização Maia. A reinvenção do futebol pelos ingleses, com as regras que temos hoje, transformou o esporte num dos mais populares do mundo, então não é a toa que este amado jogo também venha acompanhando todo o avançar tecnológico dos videogames.
Agora, em pleno andamento de Copa do Mundo, iremos acompanhar essa evolução. Como surgiu o primeiro jogo de videogame baseado no esporte bretão e como eles, atualmente, se tornaram verdadeiros simuladores virtuais, capazes até de nos confundir com uma partida real quando passa um jogo na tela de nossas casas.
Magnavox Odyssey
O jogo não passava de dois quadrados grandes na tela representando os jogadores e um menor representando a bola. Lembrava muito mais um Pong do que um futebol. Para compensar o baixíssimo nível gráfico, junto com o jogo, vinha uma tela colorida translúcida para colocar no visor da televisão, ela trazendo a ilusão de se jogar o verdadeiro esporte bretão, uma vez que já vinha com todo o campo e os jogadores desenhados nela.
A partir daí, outros consoles de primeira geração trouxeram o futebol como um dos seus principais jogos. O Telejogo e vários outros clones do Pong traziam o esporte como uma das principais opções de entretenimento. Logo, desde o começo, o futebol já vem sendo uma aposta grande nos videogames, sendo uma boa motivação e arma mercadológica para a venda dos consoles caseiros.
O futebol na segunda geração: o Rei Pelé como garoto propaganda
O Atari Soccer (ou International Soccer) foi o primeiro jogo de futebol do Atari. Também com gráficos muito rudimentares. A propaganda da Atari foi pesada. Em um comercial onde apareciam várias estrelas do esporte mundial, eis que surge o eterno rei do futebol, Pelé, jogando vibrantemente o Atari Soccer e ainda dizendo que havia abandonado o futebol para ficar jogando Atari, isto foi em 1977.
Logo após, a própria Atari lança, em 1982, o Pelé’s Soccer, tornando-se, assim, um dos primeiros jogos a usar o nome de uma celebridade. Nele você controlava três jogadores ao mesmo tempo — aliás, cada time só tinha esses três jogadores mesmo — que mais pareciam com círculos grandes do que com qualquer coisa humana. Com eles, tentava-se controlar a bola e levá-la até o gol adversário.
O Magnavox Odyssey² — sucessor direto do primeiro console do mundo — também trouxe alguns bons jogos de futebol para a 2ª geração. Nele podemos destacar o Hockey + Soccer, um cartucho que trazia dois jogos (Hockey sobre o gelo e o Futebol). Os gráficos não eram melhores que os do Atari, porém sua jogabilidade era mais interessante, onde tínhamos que controlar um jogador por vez (inclusive o goleiro). No entanto, o número de jogadores por time também era reduzido, somente cinco em cada lado.
Nesta geração, quem trouxe o melhor futebol foi o Colecovision, com o Super Action Soccer. Trazendo uma visão lateral, a mesma do Superstar Soccer, o console (que era bem superior ao Atari 2600) nos mostrou um jogo com gráficos belíssimos, muito avançados para a época, inovando na jogabilidade e poder gráfico para os jogos de futebol, inclusive com a mudança para câmera frontal nas batidas dos pênaltis e quando o jogador ficava cara a cara com o goleiro, além da introdução do zoom quando ficávamos com a bola no ataque – técnica que só foi usada novamente no NFL 95 do Mega Drive. Este jogo foi revolucionário e, de longe, foi o melhor futebol da 2ª geração.
3ª geração: melhorias gráficas e jogos mais desafiadores
No ano seguinte é lançado o melhor jogo de futebol da geração 8 bits. Goal – ou Gol de Craque, no Phantom System – foi produzido pela Jaleco, trazendo muitas inovações gráficas e novos desafios. Este game impressionou com o poderio gráfico: tinha uma visão por cima, quase isométrica, além de uma proporção do tamanho do campo mais real que os antecessores e as belíssimas cutscenes de comemoração a cada gol feito.
Ademais, esse jogo inovou na jogabilidade. Ele era muito mais desafiador que qualquer outro antes feito e oferecia vários modos de competição, entre os quais podemos destacar o modo World Cup, quando jogávamos uma Copa do Mundo com várias seleções, e o modo Tournament, em que jogávamos um campeonato da liga norte-americana com times fictícios dos EUA.
O primeiro jogo baseado em uma Copa do Mundo
O World Championship Soccer foi lançado em 1989 para o Master System e Mega Drive. No Brasil, a Tectoy lançou como Super Futebol 2. Aproveitando a Copa da Itália de 1990, a Sega muda o jogo acrescentando o mascote e os símbolos do evento em questão, sendo este o primeiro jogo de futebol baseado numa Copa do Mundo.
O título ganhou o nome World Cup Italia 90 e, apesar de ter a logomarca da Copa da Itália logo na introdução do jogo, a Sega não conseguiu autorização da FIFA para usar a imagem dos jogadores. Por conta disso, as seleções não mostravam o nome dos craques e cabia à nossa imaginação assumir que aquele que recebia a bola era o Silas, que aquela roubada de bola foi feita pelo Dunga ou Ricardo Gomes, e que aquele golaço marcado foi de autoria do Careca, o centroavante da seleção brasileira de 1990 — fora as grandes defesas do goleiro, quando gritávamos “sai que é sua, Taffarel!”.
World Cup Italia 90 ainda não superava o Goal do nintendinho, nem em gráficos, nem em diversão, mas não deixava de ser um ótimo jogo. Tinha a visão por cima do campo, tal qual sua versão para o Mega Drive, o modo World Cup já era apresentado (coisa que não existia no seu antecessor, o Super Futebol) e tinha uma dificuldade moderada. Era preciso descobrir os locais exatos no jogo para chutar a bola e marcar um gol — uma vez descoberto, fica moleza chegar até as finais do torneio. Ele também apresentava belíssimas imagens de comemoração, porém estáticas, bem diferente das animações do jogo da Jaleco para o NES.
Cada um desses jogos foram importantes na história do desenvolvimento dos games,desde a rudimentaridade do primeiro Soccer para o Magnavox Odyssey até o avanço tecnológico para a terceira geração. Game após game era melhorado o seu desempenho gráfico, o nível de diversão e desafios propostos. Estes jogos são a Memória viva do avanço da indústria e vale muito conhecê-los e, até, se divertir com eles.
Revisão: João Pedro Boaventura
Originalmente publicado em GameBlast