Um novo estudo desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisas em Memória, do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), abriu uma janela para o tratamento efetivo do Alzheimer.
A pesquisa foi realizada com ratos e bloqueou a proteína PKMzeta, que atua no fortalecimento das conexões entre células cerebrais. Ao inibir o funcionamento dessa proteína, os cientistas impediram os roedores de incorporar informações sobre um objeto novo, que nunca haviam tido contato, apresentado junto com outro já conhecido. Ao mesmo tempo, os ratos também perderam totalmente a memória desse objeto familiar.
“Os ratos não perderam a memória de todos os objetos já conhecidos, mas unicamente aquela acerca do objeto familiar reapresentado junto com um objeto novo”, explicou o professor Martín Cammarota, que lidera junto com a neurocientista Lia Bevilaqua a equipe de pesquisadores.
De acordo com o cientista, da mesma forma que se pode fazer com que um rato esqueça seletivamente um objeto é possível fazer com que ele lembre melhor, durante mais tempo e seletivamente, desse mesmo objeto. É essa perspectiva que abre possibilidades de estudos futuros sobre demências como o Alzheimer.
Neste trabalho, publicado no JNeuroscience, a equipe descreveu os mecanismos moleculares envolvidos na atualização das memórias de reconhecimento, aquelas que nos permitem discriminar objetos e pessoas conhecidas de outras não familiares.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o Alzheimer é a forma mais comum de demência, atingindo cerca de 60% a 70% dos casos registrados. O problema atinge 47 milhões de pacientes em todo o mundo.
Os mecanismos fisiológicos envolvidos na formação e atualização das memórias vêm sendo amplamente estudados nos últimos anos. No entanto, de acordo com os pesquisadores, é a primeira vez que um laboratório descreve o envolvimento da PKMzeta na atualização da chamada Memória de Reconhecimento de Objetos (MRO) e demonstra que sua inibição conduza ao apagamento seletivo de um traço especifico de memória.
“Estes achados contribuem notavelmente para o entendimento dos fatores que governam a persistência e a modificação das memórias declarativas e abrem uma janela promissora para o tratamento efetivo de doenças e transtornos que cursam com um notório deterioro deste tipo de memórias, como é o caso da doença de Alzheimer”, completou Martín Cammarota.
Pesquisadoras Maria Caroline Gonzales e Andressa Radiske demonstram como são observados os modelos animais usados na pesquisa — Foto: José de Paiva Rebouças
Fonte: G1 RN
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