8 fatores que influenciam no crescimento do seu filho

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Desde o ultrassom, quando ainda não se sabe quase nada sobre o bebê, os pais já saem do consultório com duas informações que terão na ponta da língua pelos primeiros anos de vida da criança: o peso e a altura dela. Daí em diante, cada centímetro e grama ganhos são acompanhados e comemorados com entusiasmo. Um dos motivos é que esses são uns dos principais indicadores do desenvolvimento.

Ainda nos primeiros anos de escola, muitas famílias já sentem aquele receio: “Meu filho é o mais baixinho?”. Ser o menor, porém, nem sempre significa que há algo de errado com a saúde dele. Isso porque o crescimento é um processo complexo, que envolve diversos fatores – e nem os pais, nem a criança têm controle sobre o principal deles: a genética. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), ela é responsável por 80% da estatura final. Os outros 20% envolvem questões que você verá nesta reportagem.

Muitas vezes, a dificuldade no crescimento começa ainda na barriga da mãe, como resultado de problemas no funcionamento da placenta. “Como o órgão é totalmente responsável pela nutrição e oxigenação do bebê, a redução da função placentária pode causar transtornos nutricionais. Com isso, há uma tendência à restrição no crescimento e desenvolvimento do bebê”, explica a ginecologista e obstetra Renata de Camargo Menezes, membro da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e diretora da clínica Engravide (SP). Isso afeta o amadurecimento do organismo do bebê e, por isso, mesmo mais tarde, já fora do útero, ele poderá apresentar dificuldades para crescer. A boa notícia é que os centímetros “perdidos” costumam ser recuperados logo nos dois primeiros anos de vida.

Mas se o seu filho já passou dessa idade e ainda não atingiu a estatura esperada, saiba que pressioná-lo para comer ou dormir mais para crescer ou até compará-lo ao colega de classe não vai ajudar em nada. Em geral, os meninos são os que mais sofrem com os apelidos maldosos, enquanto as meninas baixinhas são associadas a termos mais delicados. De acordo com a psicóloga e psicanalista Gabriela Malzyner, membro efetivo da Clínica de Estudos e Pesquisas em Psicanálise da Anorexia e Bulimia (Ceppan), não reproduzir essas falas evita que as crianças cresçam com visões distorcidas de seus próprios corpos. Afinal, se há algum problema de saúde relacionado à dificuldade de crescimento, é investigando que você ajudará seu filho. E se não há nenhuma questão, o melhor é ensiná-lo desde cedo a valorizar as próprias características, o que fará a diferença na construção de sua autoestima. A seguir, listamos alguns dos fatores que podem interferir no resultado da régua de crescimento.

Atividade física, sim. Em excesso, não!

Um estudo publicado em 2018 no jornal Scientific Reports, que reúne conteúdo científico do mundo inteiro, sugeriu que a atividade física pode afetar o crescimento infantil. Baseado em dados que abrangem 20 anos de desenvolvimento econômico numa comunidade agrícola maia, no México, os pesquisadores da Universidade de Utah (EUA) mostraram que as crianças que gastam mais tempo e energia nas atividades físicas são significativamente menores, mais leves e têm níveis mais baixos de gordura corporal do que as menos ativas. Apesar de, em um primeiro momento, parecer que os exercícios são prejudiciais ao crescimento, não é bem assim que funciona. A endocrinologista Rosângela Rea, professora da Universidade Federal do Paraná, afirma que o perigo está no excesso. “O intenso trabalho muscular, notadamente no caso da ginástica olímpica, por exemplo, pode levar a uma importante desaceleração do crescimento, inclusive com perda na estatura final”, explica. Isso ocorre porque o exagero de atividade física suga tanta energia do organismo que acaba prejudicando seu desenvolvimento.

Assim como para tudo na vida, bom senso é a regra de ouro também nos exercícios. É importante, aliás, que a criança pratique diariamente uma hora de atividade física. E nem é preciso matriculá-la na natação, no futebol ou no balé. Correr e jogar bola em casa já suprem a necessidade. Essas atividades, aliás, estimulam o desenvolvimento das células que formam o tecido ósseo e muscular. “A quantidade de células musculares é determinada pela genética, mas elas podem aumentar de tamanho influenciadas por exercícios, o que fortalece a musculatura”, explica o professor de educação física Rafael Braga, mestre em Ciências do Movimento Humano e coordenador do curso de licenciatura em educação física da PUC-PR. Está aí um bom motivo para agradecer por seu filho não parar quieto. E repensar caso as atividades físicas estejam tomando boa parte da rotina diária da criança.

Mais ovo no cardápio:

Ele é um aliado do crescimento, sabia? A afirmação tem como base um estudo realizado por pesquisadores de saúde pública dos Estados Unidos e do Equador, publicado recentemente no jornal científico Pediatrics. Na ocasião, eles verificaram a influência do alimento em 163 bebês de 6 a 9 meses, cujas famílias eram da província de Cotopaxi, no Equador. Os participantes foram divididos em dois grupos, sendo que metade consumiu um ovo por dia e a outra metade não recebeu nenhum. Nos seis meses seguintes, tanto o peso quanto a altura deles foram avaliados semanalmente. Ficou claro que as crianças que ingeriram ovo estavam maiores e mais altas, além de apresentarem 74% menos chances de ficar abaixo do peso adequado e 47% menos chances de desenvolver raquitismo.

O “sucesso” desse alimento para o crescimento e desenvolvimento se deve ao alto teor de proteínas e vitaminas, como explica a nutricionista Clarissa Hiwatashi Fujiwara, membro do Departamento de Nutrição da ​​Associação Brasileira ​para o​ Estudo da Obesidade ​e da Síndrome Metabólica​ (Abeso):  “As proteínas são necessárias para o desenvolvimento de todos os tecidos, inclusive os músculos, além de ter enzimas fundamentais para o bom funcionamento do organismo e transporte de substâncias pelo sangue. Sua deficiência está relacionada à perda de massa muscular”, diz. A especialista explica, ainda, que é na clara, que representa de 55% a 60% do total do ovo, que se encontra a proteína na forma de albumina. Ela, inclusive, é considerada referência para comparar o valor nutritivo de proteínas presentes em outros alimentos.

Por isso, e também pela facilidade em encontrar ovos, eles foram os alimentos usados na pesquisa. Mas a escolha poderia ser outra, com alto teor proteico. Animou-se a deixar o ovo mais presente no cardápio do seu filho? Ele pode ser oferecido a partir do sexto mês de vida, dando preferência às versões cozidas ou mexidas, e com pouco sal.

Hormônio do crescimento:

Naturalmente presente no organismo, uma dose extra do hormônio GH é uma aposta dos endocrinologistas para as crianças que têm deficiência dele – estima-se que isso aconteça com uma em cada dez mil. Aplicado diariamente por meio de injeções subcutâneas no abdômen, no bumbum, nos braços ou nas coxas, o tratamento é disponibilizado mediante receita médica. Se o pediatra suspeitar do problema, ele encaminha o paciente ao endocrinologista, que analisa a curva de crescimento (saiba mais no quadro Dentro da curva) e investiga por meio de exames de sangue para descobrir se a criança tem anemia ou problemas na tireoide, e de imagem (raio X da idade óssea), a fim de saber se existe alguma questão estrutural. Só depois de todas essas etapas, se for constatada a deficiência do GH, o médico inicia o acompanhamento.

O tratamento pode durar até os 14 anos para as meninas e 16 para os meninos, idades em que costumam atingir a maturidade óssea. “Já o diagnóstico de deficiência de GH pode ser feito em qualquer idade e, a partir dele, o tratamento deve ter início imediatamente”, afirma a pediatra Ana Maria Escobar, professora de pediatria da faculdade de medicina da USP e colunista da CRESCER. O endocrinologista Durval Damiani, chefe do Ambulatório de Endocrinologia do Instituto da Criança (ICr), ressalta, no entanto, que atualmente o tratamento também pode se estender a crianças que nasceram pequenas para a idade gestacional: “Elas podem se beneficiar do hormônio quando bem indicado”, diz. O mesmo vale para os prematuros, o que não significa, no entanto, que todos que nasceram antes da hora precisem de hormônio de crescimento.

A procura do recurso hormonal também é grande por parte dos pais que, por vezes, se sentem pressionados devido às comparações dos filhos com os colegas de classe mais altos. E isso tem levado muitos a buscar o tratamento por conta própria. Um levantamento feito pelo laboratório americano Abott, em parceria com a Associação de Nutrição e Dietética de Cingapura, em 2018, mostrou que 42% dos pais estavam preocupados se os filhos eram menores que outras crianças da mesma idade.

A divisão de Endocrinologia Pediátrica do Hospital Universitário Nacional do mesmo país registrou um aumento de 20% no número de encaminhamentos para questões relacionadas à altura desde o ano passado. Um quarto desses pais chegava ao tratamento por conta própria o que, segundo Damiani, é um risco: “Se não existe indicação, não haverá uma boa resposta. Porque se não há falta de GH, o organismo simplesmente troca o hormônio natural pelo medicamento. Além do gasto desnecessário, a criança ainda sofre com efeitos colaterais, como retenção de líquido e dor de cabeça. E tudo piora se a dose for exagerada, sem acompanhamento médico, podendo haver comprometimento das articulações, além de risco de diabetes e até de câncer de intestino e de útero”, diz Damiani.

O sexo e a etnia:

O grande primeiro marco do crescimento acontece nos 12 meses iniciais de vida, quando os bebês aumentam 25% do comprimento que tinham ao nascer e triplicam de peso. Nessa fase, meninos e meninas têm um crescimento semelhante. Durante a puberdade, que é o segundo marco por conta da fase do estirão, fica mais evidente a diferença de estatura entre os sexos. Parte da explicação vem dos hormônios: quando acontece a primeira menstruação, entre 10 e 15 anos, os hormônios liberados no ciclo menstrual provocam um avanço na idade óssea. Já nos meninos, que passam pelo estirão entre 9 e 14 anos, não há essa influência. Lembrando que os hormônios não são os únicos responsáveis. “Há ainda fatores genéticos e culturais que contribuem para que os meninos sejam, em média, 15 centímetros mais altos que as meninas”, explica o ortopedista pediátrico Edilson Forlin, do Hospital Pequeno Príncipe (PR).

Outra característica importante é a raça – os afrodescendentes, por exemplo, atingem a puberdade mais cedo. “Essa é uma característica racial, genética”, diz Damiani. Como a população brasileira é bastante miscigenada, o fenômeno não surpreende os médicos. “Vale dizer que as meninas crescem, em média, 8 a 10 centímetros na fase de estirão. Já os meninos ficam na faixa de 10 a 12 centímetros”, ressalta a pediatra Renata Scatena, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), e diretora clínica da Casa Crescer (SP).

Mães mais velhas = filhos mais altos

É o que sugere um estudo feito por pesquisadores do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica, na Alemanha, e da London School of  Economics, no Reino Unido. Após analisar 1,5 milhão de homens e mulheres suecos que nasceram entre 1960 e 1991, eles descobriram que crianças de mães que retardaram a maternidade até 40 anos ou mais tendem a ser mais altas, em comparação com as de mães mais jovens.

Apesar de não ser possível afirmar por que isso acontece, a pediatra Renata Scatena acredita que a maturidade das mulheres pode trazer pontos favoráveis ao crescimento. “Em geral, nessa idade, a mulher está estabilizada financeiramente, tem melhor controle emocional, passa a se preocupar mais com a saúde e a alimentação, entre outros fatores. E tudo isso influencia no ambiente em que seus filhos são criados. Quando a alimentação da família é melhor, por exemplo, é possível que o crescimento das crianças seja favorecido”, afirma.

Comer para crescer bem?

Sim. Apesar de a genética ser o fator predominante no que diz respeito à altura, a nutricionista Clarissa Fujiwara diz que, n​​a determinação da estatura final​, a influência de fator​es​ ambientais, entre eles a desnutrição, acaba sendo mais ​influente​ do que o próprio fator genético. “Quando a alimentação é insuficiente ou carente de nutrientes essenciais, o organismo diminui a atividade metabólica, poupando energia e desacelerando o crescimento”, diz. Por isso é importante que a criança tenha acesso a grande variedade à mesa. E ninguém melhor que os pais para dar o exemplo: a família toda deve seguir um padrão alimentar equilibrado. Na prática, isso significa comer frutas, verduras, legumes, carboidratos vindos de cereais e grãos integrais, leguminosas, tubérculos, proteína (carnes vermelhas, frango, peixes e ovos) e laticínios. Prefira os alimentos in natura, ou os minimamente processados (que não passaram por congelamento ou cozimento e apresentam qualidade semelhante ao do produto fresco).

Vale lembrar que há crianças que se alimentam direito, porém têm dificuldade para absorver os nutrientes, como é o caso das intolerantes ao glúten. “Elas apresentam lesões na mucosa intestinal, perdendo a superfície de absorção”, diz Damiani. Quando isso compromete o crescimento, o médico pode indicar o uso de suplementos.

Férias como aliada:

Se todo início de ano você precisa comprar novos uniformes e tem a impressão de que seu filho cresce mais nas férias, você não está só nessa sensação: um estudo feito pela Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Sul da Austrália mostrou que as crianças crescem mais e ganham mais peso durante as férias do que ao longo do período letivo. Apesar de não haver explicações para isso, os pesquisadores apontaram as mudanças na dieta e o menor nível de estresse como possíveis razões.

O endocrinologista Damiani afirma que não há interferência hormonal causada pelo estresse que possa estar ligada ao crescimento. “O que notamos é que há um crescimento sazonal. Tem certas épocas do ano, como na primavera, que a tendência do crescimento é maior. Não sabemos, no entanto, o porquê”, diz. Mas ele reforça que, nas férias, as crianças conseguem dormir por mais horas (mesmo indo para a cama mais tarde), brincam mais e têm maior acesso à comida, devido ao tempo livre. Todos esses aspectos juntos contribuiriam para o aumento na estatura.

Descanso de ouro:

A ideia de que dormir ajuda a criança a crescer faz todo o sentido. Isso porque o hormônio do crescimento (GH) é produzido e liberado no organismo durante o sono, principalmente, ao longo da noite. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) afirma que é por volta dos 30 minutos após o adormecimento que o processo começa. O pico de produção é alcançado a partir das 22 horas e segue até às 6 da manhã. Daí a explicação para as crianças que dormem pouco serem mais suscetíveis ao déficit de crescimento, além de outros prejuízos à saúde. E atenção: dormir de dia não produz o mesmo efeito no organismo, por isso, não vale compensar a falta de sono durante a noite com sonecas vespertinas.

Fonte: Revista Crescer

Imagem: Getty Images

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