‘Situação de risco’, diz empresa que suspendeu transporte de cargas do RN para Europa após apreensões de drogas

Em documento enviado ao Governo do Rio Grande do Norte e outras autoridades do estado, além do próprio Porto de Natal, a empresa CMA CGM – única transportadora marítima de cargas de frutas potiguares para a Europa – exigiu medidas urgentes para garantir a permanência das atividades no terminal. A operação está suspensa pelo menos em março.

Segundo exportadores locais, a empresa suspendeu as operações no Porto de Natal, previstas para março, após a apreensão de cerca de 3,3 toneladas de cocaína em meio a cargas de mangas e melões no terminal. Outras 7 toneladas de droga que saíram de Natal foram apreendidas na Holanda, nos últimos quatro meses.

No documento, a CMA CGM relatou uma situação precária no porto, especialmente quanto ao setor da segurança.

“Diante da situação precária do Porto de Natal que, evidentemente, aumentou tais riscos de contaminação, o grupo CMA CGM se encontra em um impasse, pois por um lado desejamos continuar contribuindo com o desenvolvimento da região Nordeste e atender aos nossos clientes locais, principais exportadores de frutas do Brasil, por outro lado não podemos permanecer nesta situação de risco que além de comprometer nossa atividade, está contra os princípios defendidos pela CMA CGM”

Além das apreensões das drogas a empresa afirmou que uma auditoria realizada em dezembro do ano passado constatou problemas como a perda da certificação ISPS do porto, desde o ano de 2014. Também há falha nos processos de segurança para entrada nas instalações portuárias, inclusive para caminhões; um escâner inoperante e falta de controle sistemático da entrada dos estivadores nas dependências do porto.

Em duas apreensões, as primeiras e únicas feitas no Porto de Natal, a PF encontrou 3,3 toneladas de cocaína seriam levadas para a Europa em navios. Droga estava escondida em meio a frutas, dentro de contêineres — Foto: PF-RN/Divulgação

O documento ainda relata a ausência de uma sala de controle das câmeras de segurança; além de que, na ocasião, oito das 40 câmeras de vigilância do porto estavam quebradas. Ainda de acordo com o relatório, falta de vigilância nos cais.

No documento, o armador CMA CGM informa ao governo que transportou, nos últimos três anos, 95% das frutas que saíram do porto para diversos pontos da Europa e 93% de todas as cargas saindo do Porto de Natal em contêineres. Em 2018, um total de 25.328 TEU (twenty foot empty unit) – essa unidade representa a capacidade média de um contêiner e representa cerca de 93 metros cúbicos.

A empresa afirmou que tem compromisso em colaborar com as investigações em curso e num eventual plano de restabelecimento da segurança. “Conjuntamente, solicitamos, no objetivo de assegurarmos nossa permanência como ator de destaque no Porto de Natal, que sejam tomadas, com extrema urgência, as providencias necessárias visando ao cumprimento dos requisitos mínimos exigidos para o reestabelecimento do credenciamento no Código Internacional para Proteção de Navios e Instalações Portuárias (ISPS)”, declarou.

O documento é assinado pelo diretor presidente da empresa no país, Lionel Chatelet e pelo diretor presidente apontado, Axel Babonneau. O G1 não conseguiu contato com a empresa.

Suspensão atinge principalmente exportação de frutas frescas para a Europa — Foto: Anderson Barbosa/G1

CODERN SE PRONUNCIA:

Em nota, a Codern informou que sua nova gestão, conjuntamente à Secretaria Nacional de Portos, ampliará imediatamente o canal de comunicação com a CMA-CGM, para buscar a manutenção das operações da empresa no Porto de Natal.

“A Companhia já estuda medidas para a superação dos óbices existentes, visando a corrigir as deficiências observadas, com o retorno das atividades à normalidade o mais breve possível. A intenção é demonstrar aos clientes que podem contar com o empenho da nova gestão. Uma das principais metas será melhorar a segurança, com vista a recuperar a certificação do Código Internacional para Proteção de Navios e Instalações Portuárias (ISPS CODE)”, declarou.

Outra ação, de acordo com a companhia, será o estreitamento do relacionamento institucional com a Receita Federal, Polícia Federal, Anvisa, Ministério da Agricultura e Capitania dos Portos, para ter uma “maior interação e aperfeiçoamento das atividades no Porto”.

“A Codern reafirma seu compromisso inalienável com o desenvolvimento do Rio Grande do Norte e priorizará, dentre suas metas de curto e médio prazo, a otimização de seus processos, a racionalização de sua gestão e, principalmente, a modernização de sua infraestrutura”, concluiu.

Estado busca Governo Federal:

A gestão do Porto de Natal pertence ao Governo Federal, através da Companhia Docas do Rio Grande do Norte. A governadora Fátima Bezerra (PT) informou que recebeu o ofício da empresa, datado do último dia 20, nesta quinta-feira (21) e, após tomar conhecimento da situação, enviou solicitação de providências ao Ministro de Infraestrutura e à Secretaria de Portos.

A governadora também afirmou que fez contato com o coordenador da bancada federal do estado para que os deputados e senadores potiguares busquem solução com a União.

“O porto é estratégico para a economia do estado. Solicitei plano emergencial ao Governo Federal no sentido de tomar as medidas necessárias para garantir a segurança do Porto de Natal”, disse.

IMPACTO:

Com exceção de uma menor parcela de frutas e pescados que são exportados por avião, a maior parte sai do estado por navio. Somente em janeiro, os melões foram responsáveis por 53% das exportações estaduais e representaram mais de US$ 23 milhões na economia. De acordo com os empresários, a transferência da carga para portos do Ceará, por exemplo, ampliam entre 20 e 30% o custo para exportação.

Outro setor afetado é o da reciclagem, que envia pelo mesmo porto, em média 150 toneladas de materiais ferrosos e não ferrosos para a Europa, mensalmente.

APREENSÕES:

A polícia holandesa apreendeu nesta semana 2,4 toneladas de cocaína no Porto de Roterdã. Esta foi a quarta vez, desde outubro do ano passado, que drogas são encontradas escondidas dentro de contêineres, em meio a carregamentos de frutas que embarcaram no Porto de Natal, o que totaliza quase 7 toneladas do pó.

Rota do tráfico internacional de cocaína tem o Porto de Natal como ponto de embarque — Foto: Rodrigo Cunha/G1

Somando este total às 3,3 toneladas de cocaína descobertas no terminal marítimo potiguar na semana passada, o volume passa de 10 toneladas em menos de 4 meses. As informações foram confirmadas ao G1 pelo setor de vigilância e repressão da Receita Federal.

A rota marítima internacional de drogas Natal-Holanda foi revelada pela Polícia Federal também na semana passada, justamente com a descoberta de drogas no Porto de Natal. De acordo com a Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), estas foram as primeiras apreensões de entorpecentes da história do terminal, aberto desde 1932.

Fonte: Portal no Ar

Imagem: Codern/Divulgação

Sair da versão mobile