Uma proposta promissora
Sem dúvidas o maior atrativo de Riot: Civil Unrest é a sua proposta. O título, que inclusive foi financiado no site Indiegogo, busca representar uma forma de combate cada vez mais comum na atualidade: forças policiais e grupos de protesto. Para tanto, os produtores entraram em contato com vários participantes deste tipo de movimento. Tudo para que os cenários fossem os mais realistas possíveis, considerando vários locais do mundo.
O modo campanha do game tem quatro opções diferentes, todas baseadas em eventos e protestos reais: NoTAV movement, situado na Itália; Battle of Keratea, que se passa na Grécia; Indignados movement, na Espanha; e Tahrir Revolution, situado no Egito. Além deles, várias outras localidades famosas podem ser liberadas no jogo, incluindo Venezuela, Turquia, China e até mesmo o Brasil.
O jogo, lançado neste mês com versões para Switch, PS4, PC e Xbox One, te coloca no comando de um dos lados para realizar objetivos específicos, utilizando as ferramentas e habilidades que cada um possui. Em missões de deslocamento, por exemplo, os grupos de protesto devem resistir ao avanço policial. No caso das forças policiais, este tipo de missão consiste em levar os manifestantes até uma área específica.
Existem vários outros objetivos, como ocupação, onde os manifestantes devem permanecer em uma determinada área (e os policiais devem impedir), movimentar multidão, onde os grupos devem invadir uma certa região controlada pela polícia (que deve resistir as investidas), e até mesmo missões com confrontos diretos. É importante lembrar que quanto mais pacificamente as missões forem realizadas, maior é o número de pontos obtidos. Isso porque além do sucesso tático, o game também registra o impacto da mídia na partida.
Além da campanha, temos os modos Versus e Global. O primeiro permite até quatro jogadores participarem de uma partida, onde cada um pode escolher de qual lado participar. Todos os cenários e itens do jogo já liberados estão disponíveis para serem selecionados. Já o segundo modo foi o que achei mais interessante. Nele, temos uma sequência de desafios diferentes que acumulam os resultados anteriores.
Ou seja, o seu desempenho em cada partida irá influenciar as condições da próxima. Se você concluir uma missão utilizando muita violência, por exemplo, na próxima você terá que lidar com um contingente maior do grupo opositor. Assim como na campanha, o modo Global oferece vários desafios variadas, sempre exigindo que o jogador pense em diferentes estratégias e avalie bem as suas customizações (que são numerosas, como veremos a seguir) e ações durante as partidas.
Escolha seu lado
Antes de cada partida, é possível escolher entre os grupos de protesto e as forças policiais. Cada um tem as suas próprias particularidades, habilidades e estratégias. No caso dos manifestantes, temos opções como quantidade de bandeiras e tipo de proteção, que determinam a quantidade de pessoas e a resistência das mesmas. No caso dos itens, missões mais pacíficas podem se valer de câmeras (para registrar ações violentas) e internet (para chamar ajuda online).
Já para as missões mais “tensas”, fogos de artifício e coquetéis molotov são úteis. Falando agora do outro lado, para montar a sua equipe de policiais preste atenção nas características de cada tipo de unidade: balística, assalto e tática. Como os próprios nomes sugerem, a primeira é focada em ataques com armas à distância, a segunda em confrontos diretos e a terceira em fazer cordões de isolamento e controlar o público.
Ao equipar as forças policiais com armas mais fortes, maior o número de manifestantes durante as partidas. Ou seja, se você quiser levar cassetetes expansíveis e munições “reais” (ao invés de borracha ou fumaça), espere uma oposição mais ferrenha. Também é possível determinar o nível de defesas e os itens dos oficiais da lei, tais como máscara de gás e câmeras (afinal, não são só os manifestantes que têm direito a denunciar comportamentos violentos). Esta equilibrada atenção dada para ambos os lados foi uma agradável surpresa, pois achei que o título tenderia para o lado dos manifestantes.
Quando a partida começa, temos uma indicação de como resolver o objetivo. O HUD da tela mostra os itens e habilidades que cada botão do controle pode executar, assim como um indicador geral do desempenho de cada lado. Mesmo tendo enfoque na estratégia, Riot: Civil Unrest tem alguns elementos de ação durante as partidas. Tirar fotografias no momento certo, criar cordões de proteção e lançar projéteis (sejam granadas de fumaça ou coquetéis molotov) exigem atenção e agilidade do jogador, pois o resultado destes atos pode definir uma partida.
Boas ideias, mas execuções um pouco deficientes
Mesmo com uma estrutura sólida com vários pontos positivos e premissas interessantes, o game infelizmente peca em dois quesitos principais. Acredito que o maior problema do título seja a sua finalização. Ou, em outras palavras, os detalhes e aperfeiçoamentos necessários para fechar o pacote com as boas propostas e mecânicas básicas. Fica a sensação de que Riot: Civil Unrest poderia ser muito melhor e que seu potencial é desperdiçado.
Alguns exemplos dos (muitos) problemas nos detalhes estão no visual do game. Ressalto que o visual 8 bits é adequado para a proposta do jogo (embora creio que 16 bits teria sido ideal). Admito que ver pessoas se atacando em protestos utilizando gráficos mais caprichados poderia ter mais impacto, mas talvez tornasse a experiência um pouco pesada demais. Entretanto, devido aos gráficos pixelados, algumas escolhas de cores e layouts poderiam ter sido melhores, tal como usar uma fonte branca sobre uma imagem mais escura.
Além disso, infelizmente alguns zooms desnecessários acontecem durante as partidas, salientando de maneira negativa os pixels na tela. Os efeitos sonoros do game, por outro lado, são competentes em ambientar a tensão dos embates, seja no barulho dos fogos ou das balas disparadas. As músicas são boas, mas tem pouca quantidade e variedade. Os comandos do controle funcionam bem, permitindo que o jogador organize suas táticas sem grandes dificuldades.
Outro ponto que podia ter sido mais trabalhado é o acabamento dos menus e informações na tela. Embora existam várias opções para customizar as partidas, conforme já exposto anteriormente, a falta de informações e detalhes sobre como as coisas funcionam é gritante. Talvez esta “simplicidade” pudesse ter sido amainada com a presença de um bom tutorial. Apesar de a jogabilidade ser relativamente simples e dos objetivos razoavelmente claros, senti muita falta de uma ferramenta para introduzir o jogador ao game.
Tive de jogar várias partidas a esmo (e ver vídeos e ler dicas online) e perder várias vezes para começar a entender as mecânicas do jogo. Mesmo que games de estratégia normalmente exijam dedicação, o título deveria ter tido mais esmero em auxiliar o jogador. O segundo quesito em que Riot: Civil Unrest peca é no desempenho. Devido às características “simples” do jogo, eu não esperava tempos de carregamento tão longos ou eventuais travamentos e lentidões. Não chega a atrapalhar tanto nas partidas, mas incomoda bastante quando navegamos entre menus ou temos que trocar/reiniciar as missões por algum erro no jogo. Como seu lançamento é recente, espero que esses defeitos sejam corrigidos no futuro.
O gameplay em si é competente, sem maiores problemas. Podemos mover os grupos de manifestantes ou policiais, sendo que cada um deles pode usar um item ou comando por vez. Todas estas opções tem um cooldown, então é importante pensar antes de agir. Um ponto interessante é que muitas vezes quando movemos um grupo (seja de protestantes ou policiais) alguns membros dele acabam ficando “presos” em pontos do cenário. Conforme declarado pelos produtores, cada personagem pensa de forma “independente”, o que valida vermos alguns comportamentos erráticos nas partidas.
Um recurso que senti falta foi um botão para acelerar a passagem de tempo. Opção comum em jogos de estratégia, evitaria termos que esperar algum tempo para que algo relevante aconteça nas partidas. Como elas giram em torno de cinco minutos, não chega a ser um problema, apenas uma oportunidade perdida. Aliás, esta é a sensação final que fica: Riot: Civil Unrest é divertido e desafiador, mas possui alguns pontos negativos que prejudicam o seu desempenho geral.
Protestos nunca foram tão divertidos
Riot: Civil Unrest tem a premissa de permitir ao jogador lutar do lado de manifestantes ou policiais em protestos baseados na vida real. Esta proposta original e interessante conta com diversas mecânicas bem pensadas, muitas opções de customização e vários desafios diferentes e divertidos. Infelizmente, ele conta com dois pontos negativos relevantes: a falta de informações e o acabamento (tanto visual quanto em nível de desempenho) mediano, que acabam afetando o título como um todo. Ainda assim, se você curte jogos voltados para a estratégia (e um pouco de ação) e quer experimentar algo novo, o game é uma boa escolha.
Prós
- Proposta inovadora;
- Jogabilidade e mecânicas de jogo simples e divertidas;
- Grande quantidade de conteúdo, com várias missões e modos diferentes de jogar;
- Várias possibilidades de customização;
Contras
- Ausência de tutorial e maiores informações exige pesquisa e muita tentativa e erro;
- Lentidão e travamentos ocorrem com alguma frequência;
- Acabamento geral poderia ser bem melhor;
Riot: Civil Unrest – PC/PS4/Xbox One – Nota: 6.5
Versão utilizada para a análise: PS4