O Spotify, maior companhia de streaming de música do mundo, quer se tornar, também, o líder global de streaming de áudio.
A companhia sueca está adquirindo duas empresas de podcasts, em um movimento para acelerar seu investimento em conteúdo não musical e também ganhar o público do rádio.
A empresa, que é a segunda maior plataforma para podcasts, anunciou que compraria a Anchor para expandir sua presença em outros seguimentos do mercado de áudio. Também vai adquirir a Gimlet Media, criadora de um app para podcasts.
Os planos de aquisição surgem no momento em que o Spotify obteve seu primeiro lucro operacional.conquistado no quarto trimestre do ano passado.
Daniel Ek, presidente executivo da marca, disse que o resultado valida a estratégia da empresa. “Podemos considerar essa questão como resolvida e declarar que o modelo funciona”, afirmou em entrevista.
“Dissemos que éramos capazes de sair do vermelho e o fizemos, e com isso podemos voltar ao investimento”, acrescentou o executivo.
Os termos das transações não foram revelados, mas pessoas informadas sobre o assunto disseram que a Anchor foi avaliada em mais de US$ 150 milhões (cerca de R$ 560 milhões), e a Gimlet, acima dos US$ 200 milhões (R$ 740 milhões).
As informações do Spotify aos investidores indicam que a empresa planeja gastos pesados.
Ela quer realizar mais aquisições no ramo dos podcasts e planeja investir até US$ 500 milhões (mais de R$ 1,8 bilhão) em múltiplas transações neste ano.
A Gimlet, cofundada em 2014 por Alex Blumberg, ex-produtor do programa de rádio This American Life, e por Matthew Lieber, que foi consultor no Bostom Consulting Group, produz podcasts populares nos Estados Unidos, como Reply All, StartUp e The Nod (The Wall Street Journal tem uma parceria de conteúdo com a Gimlet).
A Anchor, fundada em 2015, criou um app cujo objetivo é simplificar a produção e a distribuição de podcasts e ajuda os criadores a ganhar dinheiro com eles. A empresa diz hospedar 40% dos novos podcasts do planeta.
O Spotify planeja fazer no ramo dos podcasts o que fez na música, oferecendo curadoria, personalização e serviços de recomendação, além de desenvolver ferramentas para podcasters e recolher dados para eles.
Ek disse que é provável que em dez anos o Spotify continue a ser identificado como uma companhia de música, mas traçou paralelos com o rádio, ao falar das ambições da empresa no mercado de áudio.
“As pessoas ouvem música, predominantemente”, disse. “Mas os podcasts intensificam a experiência”.
Ainda que podcasts possam ser mais lucrativos que a música para o Spotify, Ek disse que a expansão para essa mídia envolve primordialmente estender o apelo do serviço e ganhar dinheiro com a participação de mercado que pode ser conquistada nas duas horas ao dia que as pessoas dedicam a ouvir rádio no mundo.
Ek estima que o vídeo comande um mercado de US$ 1 trilhão , ante US$ 100 bilhões para os mercados de música e rádio combinados.
“A questão que sempre me pergunto é: ‘Será que os olhos valem mesmo dez vezes mais que os ouvidos?’. Eu não acho que isso seja verdade”, disse. “Se acrescentarmos novas oportunidades de monetização, o setor vai crescer, e essa é a oportunidade”.
O Spotify já distinguiu que os podcasts atraem audiências engajadas. As pessoas que ouvem podcasts passam duas vezes mais tempo usando o serviço e tendem a também ouvir mais música. Isso torna menos provável que cancelem suas assinaturas.
Investir em podcasts, disse Ek, atrairá número maior desses usuários que antes poderiam não considerar assinar Spotify.
A empresa por enquanto só vende publicidade em seus podcasts originais e exclusivos, mas disse que existe oportunidade para que comece a colocar publicidade em todos os podcasts.
O Spotify conta com 207 milhões de usuários mensais ativos, pouco acima de sua projeção de 206 milhões para o período. Segundo a empresa, 96 milhões deles são pagantes, o que acompanha suas projeções.
Lucro de 442 milhões de euros
No quarto trimestre de 2018, o Spotify registrou lucro de 442 milhões de euros (mais de R$ 1.8 bilhão). Isso se compara a um prejuízo de 596 milhões de euros no mesmo período de 2017.
A empresa teve lucro operacional de 94 milhões de euros (R$ 396 milhões). Sua receita subiu 30%, confirmando as estimativas dos analistas.
No ano de 2018 como um todo, o Spotify teve prejuízo de 78 milhões de euros (R$ 328 milhões) sobre receita de 5.26 bilhões de euros (R$ 22 bilhões).
O fluxo de caixa livre – uma medida do caixa que uma empresa gera, e um indicador que muitos investidores consideram como representativo de seu desempenho – totalizou 84 milhões de euros no trimestre, ante 33 milhões de euros no trimestre anterior e 74 milhões de euros no período em 2017.
A receita média por usuário caiu 7%, para 4,89 euros, já que muitos dos assinantes novos do Spotify chegaram via planos familiares e em mercados internacionais nos quais os preços da empresa são mais baixos.
No primeiro trimestre, o Spotify antecipa que o número de usuários mensais ativos suba para entre 215 milhões e 220 milhões. Já o número de assinantes pagos deve subir para 97 milhões, podendo chegar a 100 milhões.
A empresa estima um prejuízo operacional entre 50 milhões de euros e 120 milhões de euros e uma receita entre 1,35 bilhão e 1,55 bilhão de euros.
Para o ano, o Spotify prevê que os usuários mensais ativos cheguem a um número entre 245 milhões e 265 milhões e que os assinantes pagos cheguem a entre 117 milhões e 127 milhões.
A empresa espera prejuízo operacional entre 200 milhões de euros e 360 milhões de euros, sobre receita de entre 6, 35 bilhões e 6,8 bilhões de euros.
Fonte: Folha de São Paulo