Há uma piada frequente orbitando o planeta CrossFit. É mais ou menos assim: “Como você reconhece uma pessoa que faz CrossFit?” A resposta: “Ela vai contar para você!”. Brincadeiras à parte, amantes da prática tendem a se integrar rapidamente, a defender seus aspectos positivos e a falar sobre ela cada vez mais.
Nesse cenário, é normal que novatos se sintam empolgados, mas ainda um pouco perdidos ao se aproximar. Por isso, resolvemos conversar com especialistas no assunto para dar um empurrão inicial em quem está interessado no que realmente acontece dento do box.
1. Evite a pirataria
Cheque se o espaço tem certificação da marca norte-americana CrossFit. Para ser aberto, o local precisa de, ao menos, um treinador (coach) com formação em Nível I feita pela própria empresa. No Brasil, há um adendo importante: para dar treinos é obrigatório ser cadastrado no CREF, o Conselho Regional de Educação Física.
Pessoas aplicando o método de forma pirata, entretanto, são comuns por aí. Reclamações recorrentes chegam ao goiano Ricardo Prudente, representante da CrossFit no Brasil, espécie de elo entre a matriz e os mais de mil boxes instalados no País. “O modelo da CrossFit é diferente de uma franquia comum, pois não determina exatamente a forma como se deve estruturar e conduzir um box”, observa Ricardo.
Isso quer dizer que é permitido criar ambientes e situações variadas pelo mundo, desde que se sigam os fundamentos da metodologia – uma sacada que tem ajudado a expandir o movimento, mas que aumenta a responsabilidade dos donos. “Vejo que o sucesso está na mão de quem toca os boxes, do quanto se importa com os demais”, completa Ricardo, que fundou a Punk CrossFit em Goiânia (GO), box com cerca de 500 membros atualmente. Ele também é instrutor Nível III da CrossFit, responsável por formar grande parte dos coachesem ação no País hoje, via cursos de Nível I e II.
2. Converse com o treinador
Para começar com o pé direito no CrossFit, é preciso contar com um instrutor experiente. “O treinador precisa saber o que o aluno está sentindo em cada momento do treino”, defende Luiz Silveira, treinador do box paulistano BlackCat.
Antes de começar a treinar, você deveria falar sobre seu histórico prévio no esporte (ou a ausência dele) ao instrutor. Explique o que você quer, o que já fez, com que tipo de estímulo se sente confortável e tudo mais que julgar relevante para o processo.
Prefira turmas com poucos alunos por aula. Ex-atleta profissional dos 200 e 400 metros rasos, Luiz estudou técnicas e se aprofundou em cursos específicos de modalidades ligadas ao CrossFit, como o levantamento de peso, antes de começar a ensinar em 2015. Ele faz parte do seleto time de treinadores que apostam em grupos pequenos por aula. Dessa forma, você recebe mais atenção do instrutor, que pode avaliar melhor sua técnica e evolução pessoal.
3. Informe-se mais sobre CrossFit
Entender melhor onde você está se metendo ajuda a quebrar paradigmas e a perceber nuances do método. “Tudo no meu corpo hoje tem um propósito”, diz Camille Leblanc-Bazinet, campeã do CrossFit Games em 2014. “Acho que o segredo para esse processo dar certo está em mudar o foco da aparência para a funcionalidade”, agrega a atleta de elite canadense.
Camille está falando sobre consciência corporal e o despertar de capacidades físicas adormecidas, dois dos principais trunfos do CrossFit, sempre que bem conduzido. Nesse caminho, converse com praticantes mais experientes, questione treinadores e busque informações com outros experts em suas áreas, sobretudo as ligadas à saúde.
“Muita gente entra em um box buscando ficar sarado, o que de fato funciona como uma isca para novos adeptos, mas há algo muito mais especial do que isso”, sugere Ricardo Prudente, antes de completar: “A essência de tudo é criar nas pessoas o gosto por exercício físico e despertar nelas seus verdadeiros potenciais; os benefícios devem ser uma consequência natural”.
4. Respeite seu ritmo
Nem todo mundo lida bem com competição. E esse ponto é chave no CrossFit. Enquanto alguns se motivam com desafios e conseguem manter o equilíbrio entre esforço e atividades seguras, outros exageram na dose – e há ainda uma porcentagem de pessoas que se sentem intimidadas com esse tipo de cenário.
Para João Abreu, sócio e head coach da CrossFit Brasil, em São Paulo, esse tem sido o principal ponto de desequilíbrio por aí. “Muitos treinadores gostam de competir e focam desde cedo nesse lado, moldando seus alunos dessa forma”, diz João, que também é educador físico e fisiologista do exercício e tem buscado outro caminho.
No seu box, apenas 10% dos alunos em média estão interessados realmente em competições. Os demais praticam sem visar essa vertente. A lista de praticantes inclui crianças, grávidas, três amputados, um cadeirante e adeptos com mais de 75 anos.
João, que também pratica CrossFit, defende um bom senso dos instrutores, permitindo que cada interessado escolha seu caminho (competir ou não). “Um bom líder traz os alunos para mais perto e estimula a consciência dos movimentos”, diz.
5. Divirta-se
Um dos seus grande exemplos nesse trajeto tem sido a britânica Samantha Briggs, que sustenta essa mesma linha de pensamento. “Treinar duro todo dia deve ser justamente a parte da sua rotina em que você evolui se divertindo: exercitar-se não precisa ser uma penitência, mas sim seu escape”, fala Samantha. “Adoro quando pessoas tentam cumprir desafios como escalar cordas ou se equilibrar de ponta-cabeça com os braços, pois, nessas horas, todo mundo se diverte, tanto quem está tentando pela primeira vez como quem está de fora incentivando”, conclui a britânica.
Fonte: Revista Superinteressante
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