De tempos em tempos, surgem fenômenos que ninguém explica. No mundo dos games, podemos considerar que os últimos foram Minecraft, Pokemon Go! e, agora, Fortnite. Com 200 milhões de usuários, o jogo popularizou o gênero battle royale: em cada partida, você cai aleatoriamente no cenário e precisa lutar contra outros jogadores para que você (ou seu grupo) seja o único sobrevivente no final. Sim, é basicamente um game dos Jogos Vorazes.
Multiplayer, online e de graça, o jogo entrou na cultura pop, criando até desafios virais. Em 2018, o jogo lucrou 3 bilhões de dólares. E, claro, com tanto dinheiro assim, logo aparece um mercado negro para chamar de seu.
Segundo uma investigação do jornal inglês The Independent (em parceria com a empresa de segurança cibernética Sixgill), a moeda do jogo, os V-bucks, estão sendo usados para lavar dinheiro de cartões de crédito roubados.
A lógica é simples: depois que um hacker obtém as informações do cartão de crédito de outra pessoa, ele cria uma conta no Fortnite e usa o cartão para comprar V-bucks. Com a moeda do jogo, ele compra atualizações e itens de personalização pro seu personagem (armas, formas de dança, etc). Depois que a conta é carregada com vários V-bucks, o meliante pode comprar itens raros e valiosos e transferí-los como “presentes” a outros jogadores – em troca, é claro, de dinheiro de verdade, no mundo real. Essa transação já está tão longe do cartão roubado que fica praticamente irrastreável – temos aí uma lavagem de dinheiro bem sucedida, usando apenas mecanismos bem intencionados que qualquer jogo possui.
Há quem vendo até contas inteiras, cheias de itens e atualizações, através de um fornecedor legítimo como o eBay. Isso atrai jogadores que não querem gastar tempo acumulando itens – nem começar o jogo muito fraquinhos nas competições.
1000 V-bucks custam cerca de 10 dólares. Você pode comprar no próprio jogo ou em lojas online autorizadas. Mas essas contas de hackers carregadas com V-bucks oferecem um preço muito inferior (para itens, contas, o que você quiser) do que o mercado normal, o que acaba atraindo muitos jogadores, que acabam achando grandes pechinchas, sem nem imaginar que estão contribuindo para todo um sistema ilegal.
O relatório afirma que é quase impossível saber qual a extensão da lavagem de dinheiro do Fortnite, uma vez que não tem como a desenvolvedora saber se os cartões eram roubados ou não. Até porque existem várias contas de pessoas tentando ganhar dinheiro da mesma forma que os hackers – mas usando o cartão delas mesmas e vendendo seus próprios equipamentos do jogo.
Fortnite não é o primeiro e nem vai ser o último game popular a ser usado para lavagem de dinheiro. Mas o que agravou esse caso é justamente o descaso da Epic, a desenvolvedora do jogo, com o problema. Ela ignorou os dados mostrados pelo jornal inglês e não adotou medidas para impedir que o jogo alimente um mercado negro. Ações como o acompanhamento de atividades de usuários com grandes quantidades de dinheiro virtual ou o monitoramento de grandes movimentações financeiras internas, que alguns games já fazem, não existem no Fortnite.
É provável que isso aconteça porque medidas de segurança afastam usuários – e isso é a última coisa que quer uma desenvolvedora que tem lucrado bilhões.
Fonte: Revista Superinteressante
Imagem: Pinterest/reprodução