CRÔNICAS DA VELHA RIBEIRA (7)

No começo dos anos sessenta, quem quisesse tomar um empréstimo em “banco” teria que preencher um formulário apropriado que era entregue pelo gerente ao funcionário encarregado de colher informações cadastrais a seu respeito.

O investigador de cadastro – como era classificado aquele funcionário – saía então à cata dessas informações, percorrendo os bancos, casas comerciais e pessoas físicas indicados pelo pretendente ao crédito e também, por razões óbvias, aos que ele não indicava…

Durante anos, duas figuras exponenciais dominaram o mundo cadastral natalense. Eram eles, Clóvis Lacerda, chefe do cadastro do Banco do Estado de São Paulo e “seu” Álvaro Pires, que exercia a mesma função, no Banco do Brasil. Personalidades diametralmente opostas, pode-se dizer que Clovão – como era conhecido o primeiro – era um legítimo representante do liberalismo enquanto que “seu” Álvaro personificava o conservadorismo.

Clovão gostava dum papo informal, durante o qual – também informalmente – dava importantes referências aos investigadores de cadastro que o procuravam e a estes invariavelmente dispensava um tratamento cordial, afetivo, carinhoso até. Quando recebia um colega, esticava-se na cadeira, punha os pés sobre a mesa de trabalho e tome conversa!

Evidentemente, ao longo do papo, também colhia informações para enriquecer seu vasto cabedal.

Verdadeira enciclopédia ambulante, ele sabia de cor a situação econômico- financeira de quase a totalidade dos perguntados.

Só raramente, recorria aos registros e arquivos para complementar determinada informação. Seguramente, pode-se dizer que Clovão, no alto do seu gabinete no primeiro andar do velho prédio do Banespa na rua 15 de Novembro, esquina com Frei Miguelinho – onde, até recentemente foi a sede do Novo Jornal – sabia, tintim por tintim, a situação financeira, econômica e patrimonial de quem quer que utilizasse os serviços a Rede Bancária local…

Já “seu” Álvaro, tinha um estilo completamente diferente.

Protegia o setor de castro do Banco do Brasil, na sede onde ainda hoje funciona a Agência Ribeira, com garra e tenacidade semelhantes às de uma mamãe ursa na defesa de sua cria. Jamais dava qualquer informação, por pequena que fosse, sem consultar seus arquivos que eram armazenados num enorme cofre cujo segredo só dividia com “seu” Octavio Dantas, gerente do Banco.

Quando um investigador de cadastro o procurava com o intuito e obter informações sobre determinado cliente, ele anotava os nomes investigados, dirigia-se ao imenso cofre e ficava e costas p´ro sujeito, como que protegendo o segredo da eventual curiosidade o visitante.

Mas, assim como Clovão, era gentil e atencioso para com os colegas de outros Bancos, porém sem intimidades para com estes que, diariamente, lhe solicitavam informações confidenciais.

A conversa com ele era curta e suas respostas, lacônicas.

Não me lembro de tê-lo visto sorrir uma única vez, nas incontáveis visitas que lhe fiz durante os anos em que trabalhei como investigador de cadastro, no Banco Nacional do Norte…

Por sua postura muito fechada, austera e sisuda, era respeitadíssimo pelos colegas do Banco do Brasil.

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