Quando o peso do mundo parece nos rodear por completo, percebemos que ele não possui nenhuma influência em nosso sentir, se estamos leves demais por dentro. Como que para compensar o choque causado pela nossa imaginação e a realidade, o sonho ganha muito mais força do que o pesar e nos faz suportar com alegria a espera entre o espaço que ocupamos e o que desejamos ocupar.
Cristian Emanoel Oliveira Vasconcelos nasceu na Bahia, em Campo Formoso, seu nascimento foi prematuro, sua mãe estava com 5 meses de gestação, em decorrência de uma complicação causada por uma ruptura intrauterina, ela precisou se submeter a uma cesariana de emergência.
O médico da família não acreditava que seria possível a criança sobreviver ao parto nestas condições, contrariando as expectativas, Cristian, com suas próprias palavras, conta que nasceu “chorando muito, muito forte”. Se o choro simboliza a vida, o seu demonstrava a intensidade de vida que existia dentro daquele, no momento, pequeno e frágil corpo.
Dificuldades superadas desde o começo
A princípio lhe deram 24 horas de vida, depois mais 48 horas, por fim 72, num início de existência marcado por pausas que o corpo não poderia evitar, a pequenina vida foi atingida por apneias, paradas cardíacas e respiratórias que demonstraram que o tempo não é o mesmo para nenhum de nós enquanto seres flutuantes neste mundo.
E o tempo, que consiste muito mais no não saber do que na certeza do que virá, trouxe novos desafios para Cristian. Aos quatro meses de idade ele começou a perder a visão, em razão de uma retinopatia de prematuridade. Sua família iniciou uma campanha para arrecadar o dinheiro que permitiria a realização da cirurgia, o valor era extremamente alto, mas em dois dias o dinheiro estava na conta. Cristian não obteve sucesso na cirurgia, ainda bebê, perdeu a visão.
Pouco mais adiante, descobriu-se que ele tinha paralisia cerebral. “Não foi nada fácil, se eu contar a minha história toda para vocês, eu vou ficar a manhã toda”, diz com humildade.
O direito como propósito de vida
Aprendeu o braile por volta dos 5 anos de idade. Mesmo período em que o desejo de se tornar promotor de Justiça ganhou fôlego pela primeira vez. Quando criança, numa entrevista para uma rádio, ele foi perguntado sobre o que gostaria de ser quando crescesse, respondeu que “queria ser promotor para prender os culpados e soltar os inocentes”, pois na época achava que promotores faziam só isso.
Pulando mais na história, para onde o sonho ganhou impulso suficiente para viajar mais distante, Cristian prestou vestibular para direito, passou em instituições da Bahia e do Rio Grande do Norte, escolheu Natal para ser seu novo lar.
Estudou na Universidade Potiguar (UnP), a escolheu pela acessibilidade que o local oferecia, mas também por ter escolhido primeiramente Natal, cidade em que seu pai morava.
Após ter se formado em direito, passou na prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Um ponto importante de ser conhecido é o fato da mãe de Cristian ter cursado a graduação ao seu lado. Aquela que certamente sentiu o peso a rodear não apenas por fora, mas parecia querer invadi-la por dentro, não permitiu que este último entrasse em seu coração. É evidente a gratidão e inspiração que Cristian sente pela mãe.
“Eu sempre tive esse sonho: de me tornar promotor de justiça, sempre quis seguir essa profissão” foi por esse mover que deixou sua carreira seguir os percursos que se apresentassem a sua frente. Cristian foi estagiário na Justiça Federal durante 1 ano e 4 meses, o que trouxe uma nova dúvida, a escolha entre seguir a profissão de juiz ou promotor.
Hoje, aos 27 anos, atua como residente na 9° Vara Cível de Natal. É provável que entre o espaço percorrido e o agora, ele já tenha tido motivos externos para não prosseguir com as suas aspirações, mas Cristian está leve demais por dentro para ser parado.
Imagens: TJRN
Fonte: TJRN