Potiguar nota 1000 na redação do Enem quer ser médica para ‘ajudar e ser amparo’

Duas estudantes potiguares obtiveram a nota máxima na redação do Exame Nacional Do Ensino Médio de 2018. No Brasil, 55 pessoas conseguiram atingir essa avaliação, a nota 1000. Para a mossoroense Carolina Mendes Pereira, de 18 anos, e a ipanguaçuense Rylla Lidice Varela de Melo, de 19, a notícia foi recebida com surpresa, mas ambas têm a certeza de que o resultado é fruto de muito esforço.

As notas da prova do Enem foram divulgadas na última sexta-feira (18), pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep). No total, o Inep diz que corrigiu 4.122.423 provas de redação na aplicação regular do Enem, que aconteceu nos dias 4 e 11 de novembro. Os dados, portanto, não incluem as provas do Enem PPL, aplicado para pessoas privadas de liberdade.

O tema sugerido nesta edição foi “A Manipulação do comportamento dos usuários pelo controle de dados da internet”. Tanto Rylla, quanto Carolina produziam uma redação por semana, para treinar o modelo cobrado pelo Exame. As duas faziam cursinhos particulares em Natal e pretendem ingressar no curso de medicina através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

“Ajudar e ser amparo”

Carolina Mendes conta que fez a prova “valendo” pela segunda vez. Ela concluiu o ensino médio em 2017. “Esse ano eu entendi que a redação do Enem é muito mais questão de raciocínio, de maleabilidade. O que me ajudou muito foi fazer uma redação por semana. E, quando fazia essa redação, tentava utilizar referências que a minha professora me dava”, relata.

Estudante potiguar Carolina Mendes concluiu o ensino médio em 2017 e conseguiu nota 1000 na redação do Enem 2018 — Foto: Arquivo Pessoal

A estudante afirma ainda que se debruçar sobre as disciplinas de sociologia e filosofia contribuiu para que pudesse articular melhor as ideias na hora de escrever a redação. “Quanto mais você entende o pensamento dos teóricos sobre determinadas questões que envolvam uma questão social maior, você consegue aplicar e refletir em múltiplos temas coisas diferentes”, explica.

Carolina diz que, apesar de o tema cobrado na redação em 2018 ser moderno, sobre a relação das pessoas com a internet, a compreensão da sociedade possibilitada pela literatura da filosofia e da sociologia permite o embasamento para tratar do assunto. “Saber que no dia da redação eu não vou chegar sabendo tudo que vou colocar no texto, mas que vou ter uma bagagem, uma bagagem de leitura, de reflexão (para produzir o texto)”, acrescenta.

A escolha da medicina como profissão se deu depois de um minicurso de anatomia que fez na UFRN, quando ainda cursava o ensino médio. “Os motivos reais, que talvez antes eu não soubesse e agora tenho com mais clareza, foram aparecendo. Poderia resumir em três pilares: um é a parte de estudo. Eu gosto muito de biologia, de química. Segundo que eu quero muito ser gente que trabalha com gente, poder ter uma perspectiva muito humana, que eu acho que falta muito. E terceiro que eu quero, sempre que puder, dar auxílio à minha família”.

Carolina Mendes afirma que a avó, que sofre de uma demência cognitiva, também foi importante para que tomasse a decisão. “Eu quis ser uma médica na família para ser esse amparo. Minha avó foi muito importante para isso tudo, para ver que eu queria muito poder ajudar”, conta.

“Agarrar oportunidades”

Rylla Melo terminou os estudos no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) e também tentou o Enem pela primeira vez, valendo, em 2017. Em anos anteriores prestou o Exame, mas apenas pela experiência. No ano passado, ela se mudou de Ipanguaçu, cidade da região do Vale do Açu onde nasceu e mora, para Natal. O objetivo era se matricular em um cursinho e focar na preparação para a prova.

Estudante Rylla Melo, de Ipanguaçu, conseguiu nota 1000 no Enem 2018 — Foto: Hugo Andrade/Inter TV Costa Branca

“Minha preparação foi através do cursinho. Tinha produções semanais, cada semana com um tema diferente, com convidados específicos do tema. Então eles trabalham muito repertório cultural, associações temáticas, títulos e tudo mais. Eu fazia uma produção semanal simulada”, conta.

O próximo passo, agora, é esperar o Sisu para ver as vagas nas universidades. Mas a certeza é sobre o curso: medicina. “É um sonho de criança, eu sempre desejei cursar medicina, tenho certeza de que posso fazer o bem através da minha futura profissão e me realizaria ao ver tudo acontecendo”.

O irmão mestre em fisioterapia foi a inspiração na área biomédica. “Mas, em medicina, mesmo, não há ninguém da família. Ficaria muito feliz em ocupar esse espaço”, diz.

Rylla Melo também reconhece que teve “muitas oportunidades” e que há outras pessoas que não têm as mesmas condições. “Essa vitória é a culminância de uma trajetória que foi repleta de muitas oportunidades. Eu tive a oportunidade de mostrar meu potencial, mas sei que muitas pessoas não estão nas mesmas condições que eu. Abraço as minhas oportunidades e desejo que mais portas possam se abrir”.

Fonte: G1

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