Do amor ao colecionismo
No início dos anos 2000 eu ainda era um fifeiro convicto, estava na geração 32 bits com o meu Playstation fat e o 3DO velho de guerra. Final de semana chegava e os torneios de FIFA 98 tomavam sua continuidade. Eu e meu irmão, sempre disputando a ponta dos torneios, rodávamos todos os continentes, todos os campeonatos, para ver qual dos dois levava seu time à ponta do campeonato. Quando não estava no FIFA com meu irmão, eu gostava de dar uns tiros com a Justifier no Die Hard Trilogy junto com meu amigo Zequinha. Era um jogo fantástico e muito desafiador, que uniu perfeitamente a trilogia do filme, transformando três jogos excelentes num único CD. Foi um vício nosso que não conseguimos finalizar.
Voltando às raízes
No lançamento o Dreamcast era um console demasiadamente caro, ainda mais para um jovem estudante de jornalismo. Para mim, ficou muito difícil comprar um, então tive que esperar o momento certo para adquirir o meu; afinal, quem espera sempre alcança.
Com o Dreamcast em casa, recheado de jogos piratas, veio a necessidade de ter algum original. As lojas ainda vendiam os restos de estoque, então consegui verdadeiras pérolas originais em um preço excelente. Para se ter ideia, comprei o Resident Evil: Code Veronica por apenas R$ 47,00. Com o Mercado Livre, também consegui muitas jóias, dentre elas: Sonic Adventure, Crazy Taxi e a obra de arte chamada Shenmue.
A paixão pelo retro
O Dreamcast foi o último console que comprei como jogador, depois dele nasceu um outro sentimento em mim, o de recuperar todos aqueles videogames que tive desde a infância. Esse vício de colecionar já é um velho conhecido meu, pois desde o início dos anos 1990 eu colecionava os quadrinhos da Marvel, aqueles da Abril em formato pequeno (formatinho). Assim sendo, não seria a primeira vez que o bichinho do colecionismo teria chegado a mim.
Chegando no famoso camelódromo, logo me indicam um quiosque, da Fox Games. Logo fiz amizade com os donos, Ricardo e Edilma. Falei o que viera procurar e logo ele puxou do balcão um lindo Mega Japonês, do jeito que eu queria. E não só isso: ele ainda me conseguiu a caixa original do 16 bits da Sega e, de tabela, me arrumou um Sega CD com a carcaça inteira. Pois é, o que você não achar no Google, você vai achar no Alecrim.
Depois de conseguir o Mega veio a segunda parte da missão, recuperar os jogos. A maioria dos meus jogos eu havia vendido ao meu primo Jason e por um milagre ele ainda os preservava na casa da minha avó Mariana. Aos poucos fui comprando de volta minhas fitas, e as últimas troquei pelo resto dos jogos prensados que ainda tinha do Playstation. Um detalhe nessa história é que minha tia Mércia, mãe de Jason, trabalhava na locadora do meu tio Marcelo, e, quando meu tio fechou a locadora, ela ficou com todas as fitas de Mega Drive que tinha lá. Ou seja: não só recuperei minhas fitas de infância como consegui um plus dos antigos cartuchos da locadora do meu tio.
Claro que a vontade de ter todos os meus consoles não cessou minha febre pelo colecionismo. Mesmo após readquirir todos os videogames que passaram em minha vida – Odyssey², Master System e Mega Drive (o 3DO eu não havia desfeito e continua comigo por mais de 20 anos) – veio a vontade de ter os outros clássicos, logo comprei um Nintendo 64 de um amigo, lindo (como ainda está), completo na caixa, com todos os seus manuais e um belíssimo Zelda: Ocarina of Time na caixa gigante. Também veio a curiosidade de conhecer os raros; foi quando adquiri o console que representa o maior erro da Nintendo: o Virtual Boy.
Nessa febre ainda contei com a ajuda de meus amigos e, graças a eles, aumentei mais ainda minha coleção Nintendo. Ganhei um Super Nintendo e um Sega Genesis europeu do meu amigo Josinai Barbosa e, pouco depois, um lindo Bit System dos meus amigos Rodrigo e João Paulo. Detalhe: todos estavam na caixa e funcionando perfeitamente, mesmo após anos parados. Podemos ver que de fato não fazem mais videogames como antigamente.
Engajamento no Museu do Videogame Potiguar
O vício em retrogame me levou para um caminho que nem podia imaginar o de fazer parte de algo maior aqui no Estado, o Museu do Videogame potiguar. Em 2014, Glídio Márcio entrou em contato comigo, convidando-me para fazer parte de um evento que iria ocorrer naquela semana: o Natal Game Club. Topei de pronto. Aquele evento marcaria completamente meu envolvimento com o retrogame.
Significação do passado
O que me levou a colecionar todos esses videogames foi a possibilidade de reviver parte das experiências que tive na infância, de relembrar cada momento vivido com meus amigos, primos, irmão junto a essas máquinas incríveis. Posso dizer que, ao ligar cada um desses consoles, sinto-me entrando em uma verdadeira máquina do tempo. Mesmo tendo zerado determinado jogo milhões de vezes, as lembranças que eles me trazem não tem preço.
O colecionismo, em si, vai bem mais além que isso. É a história viva dos videogames concentrada num quarto, contando todo seu avanço tecnológico, suas vidas, suas guerras, seus fracassos. Cada console desses tem sua história, sua vida, e mantê-los aqui, funcionando, é primordial para que essa história não seja esquecida.
Revisão: Bruno Alves
Arte da capa: Leandro Alves
Originalmente publicado em: GameBlast