Estamos em um momento conturbado da economia brasileira, com enorme perda da capacidade de consumo da população e seus reflexos em toda a cadeia produtiva. Uma das piores consequências desse momento é o elevado nível de desemprego.
Muitas empresas que já brilharam no passado, hoje enfrentam o risco de serem varridas no mercado, o agravamento de dívidas e a paralisação da comercialização de seus produtos ou serviços leva a medidas extremas como a demissão de excelentes profissionais. São anos de expertise e conhecimento sendo dispensados em detrimento da manutenção das empresas.
Neste cenário, muitos profissionais com talento, boa formação, conhecimento técnico apurado, garra e muita competência, estão ávidos para iniciar um bom projeto, agregar valor, enfim, disponíveis no mercado de trabalho.
Mas é preciso ter muita serenidade na hora de uma recolocação. Sei, obviamente, que não é fácil dizer “não” a uma oportunidade, sobretudo quando as contas se acumulam. Porém, muitas vezes, um “sim” precipitado, sem uma análise mais complexa sobre aquela vaga, pode levar o profissional a um beco sem saída, uma estagnação na carreira, com reflexos em sua imagem no mercado e em sua vida pessoal.
Outro dia encontrei uma colega, excepcional gestora, com inglês fluente e duas passagens por empresas multinacionais, especialista em logística e gestão de processos, trabalhando na função de auxiliar administrativa em um escritório de advocacia. Claro, emprego digno, empresa séria, salário, pequeno, mas em dia. Perguntei a ela, surpreso, o que ela estava fazendo naquela função tão simples. Meio constrangida, ela me relatou que ficou um ano e meio desempregada, procurou em muitas portas, mas, a cada “não”, e a cada ligação dos bancos credores, o nome no SERASA, no SPC e tudo mais, ela foi perdendo as esperanças. Bateu o famoso desespero. Resultado? Agarrou-se aquela oportunidade já há oito meses.
Eu, sensibilizado, mas ainda curioso, perguntei se ela estava gostando. Ela baixou o tom da voz e disse, baixinho que não, todo dia a mesma coisa, um tédio só, tarefas sem o menor desafio, possibilidade de crescimento zero, enfim, uma enorme distância de suas competências e rotina em dias outrora. O pior, ela me falou, “Parei de ser chamada para entrevistas a cargos de liderança e sinto minha imagem no mercado se apagando”… E estar mesmo querida.
Sim, essa história é bem verídica. Sim, é um super drama. Mas é o que temos para hoje. E antes que você comece a julgá-la, dizendo o que era para ela fazer ou deixar de fazer, eu alerto, o mundo gira e você pode acordar nessa armadilha do destino.
Por isso, insisto, antes de aceitar qualquer convite para trabalhar, pense a médio e longo prazo. Analise de forma estratégica, observe sua capacidade de crescimento futuro e não apenas o valor financeiro momentâneo. Isso vai lhe dar mais segurança para mergulhar de cara em um novo projeto. Costumo dizer que uma boa seleção acontece quando a empresa escolhe exatamente aquele candidato que também escolheu a empresa para desenvolver seus talentos profissionais. Para isso, conheça a empresa, busque informações, faça perguntas, seja um agente ativo de sua recolocação.
Ah, e quanto às contas? Eu lhe garanto, nada como uma boa negociação, e cabeça fria, para colocar tudo no lugar, afinal, acredite, os bancos, os credores e tudo mais, já lucraram e continuarão a lucrar muito, com você bem empregado.
Jean Tavares Leite é Psicólogo Organizacional e professor universitário.
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