Jair Bolsonaro, empossado presidente da República nesta quarta-feira (01), segue blindando a imprensa. Na internet, dezenas de jornalistas relataram o tratamento desrespeitoso do cerimonial com os profissionais, que esperaram até sete horas no Congresso Nacional, em Brasília.
De acordo com a CBN, profissionais de países como China e França se irritaram com a proibição de sair de uma sala de imprensa sem janelas, por exemplo. Alguns estrangeiros abandonaram o local.
“Apoiadores de Bolsonaro chegam em caravanas para acompanhar a posse. O clima é pacífico entre o público, mas jornalistas foram hostilizados. Esquema de segurança é mais rígido do que nas cerimônias anteriores”, escreveu no Twitter a jornalista da CBN Tabata Viapiana.
“Um dia de cão”, definiu Mônica Bergamo em sua coluna na Folha de São Paulo. A jornalista afirmou que foi algo jamais visto após a redemocratização do país, onde a estreia de novos governos era sempre “uma festa acompanhada de perto”.
Editora-chefe do Jornal Destak, Iara Lemos também publicou uma foto com colegas sentados no chão denunciando as acomodações a que foram submetidos durante o evento.
O jornalista Leandro Fortes disse que colegas credenciados informaram não ter tido acesso a vários espaços, inclusive tiveram dificuldades para irem aos banheiros.
“Os acessos estão todos bloqueados, não podem comer , não podem beber, não podem ir ao banheiro e quem pular cordinha de isolamento vai levar tiro. Então, camaradas, joguem as credenciais no chão e vão embora dessa merda. E comecem a entender o que a maioria de vocês fez com o Brasil, ao alimentar o antipetismo e a criminalização da esquerda, apenas para puxar o saco do patrão. Babacas”, criticou em publicação feita nas redes sociais.
A repórter do The Intercept Amanda Audi acrescentou que para chegar a um banheiro era necessário pedir três autorizações e disse que nenhuma autoridade deu qualquer declaração à imprensa, mesmo que de modo informal. Ela conta que chegou sete horas antes do início da posse e publicou, depois de uma hora do começo da cerimônia, o seguinte:
“Encerro minha participação na festa da democracia porque, como todos sabem, pela primeira vez na história os jornalistas não podem circular e acompanhar o novo presidente no restante da programação da posse”.
A Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji) emitiu uma nota a respeito do tratamento dado aos jornalistas pelo cerimonial da posse de Jair Bolsonaro:
Um governo que restringe o trabalho da imprensa ignora a obrigação constitucional de ser transparente. Os brasileiros receberão menos informações sobre a posse presidencial por causa das limitações impostas à circulação de jornalistas em Brasília.
Confinados desde as 7h, alguns com acesso limitado a água e a banheiros, eles não puderam interagir com autoridades e fontes, algo corriqueiro em todas as cerimônias de início de governo desde a redemocratização do país.
A Abraji protesta contra este tratamento antidemocrático aos profissionais que estão lá para levar ao público o registro histórico deste momento.
Diretoria da Abraji, 1º de janeiro de 2019.
Fonte: Agência Saiba Mais
Imagem: Folha de São Paulo