Todos os anos, cerca de 600 mil crianças morrem em decorrência de infecções respiratórias agudas, de acordo com o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS). Uma das causas é o alto nível de poluição. “Até os 3 anos de idade, a criança ainda não tem o sistema imunológico totalmente formado, então ela está muito mais suscetível. Diversas doenças estão ligadas à exposição à poluição como sinusite, rinite alérgica, broncoespasmo de repetição, asma e câncer”, explica a pediatra Fernanda Catharino (RJ).
E o perigo está mais perto do que se imagina: dentro de casa. Segundo pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, pequenas moléculas como o clorofórmio — presente em pequenas quantidades em água clorada — ou benzeno, que é um componente da gasolina, se acumulam em nossas casas quando tomamos banho ou fervemos água, ou quando armazenamos carros ou cortadores de grama em garagens anexas. Tanto a exposição ao benzeno como o clorofórmio foram associados ao câncer.
Enquanto uma solução a nivel mundial parece longe de se tornar realidade, os cientistas encontraram uma maneira paliativa para amenizar o problema. “As pessoas realmente não têm falado sobre esses compostos orgânicos perigosos nas residências, e acho que é porque não pudemos fazer nada sobre eles”, diz o autor sênior do estudo, Stuart Strand. “Agora nós projetamos plantas de interior para remover esses poluentes para nós”, completa.
Uma nova planta no combate à poluição:
A planta — chamada de pothos hera — foi modificada geneticamente para remover essas particulas do ar. Ela expressa uma proteína, chamada 2E1, que transforma esses compostos em moléculas que as plantas podem usar para sustentar seu próprio crescimento. Essa mesma proteína está presente em todos os mamíferos, incluindo humanos. No entanto, no corpo de uma pessoa, o 2E1 está localizado em nossos fígados e é ativado quando bebemos álcool . Portanto, não está disponível para nos ajudar a processar poluentes no ar.
“Decidimos que deveríamos ter essa reação fora do corpo, em uma planta, um exemplo do conceito de ‘fígado verde'”, explica Strand. Os pesquisadores fizeram uma versão sintética do gene e, em seguida, introduziram-na na planta, de modo que cada célula expressou a proteína. A espécie não floresce em climas temperados, então elas não serão capazes de se espalhar através do pólen. “Todo este processo levou mais de dois anos”, diz o autor Long Zhang. “Nós fizemos isso em pothos porque é uma planta de casa robusta que cresce bem sob todos os tipos de condições”, completa.
Os pesquisadores ainda testaram quão bem as plantas modificadas poderiam remover os poluentes do ar em comparação com outras não modificadas. Eles colocaram os dois tipos de plantas em tubos de vidro e adicionaram benzeno ou clorofórmio em cada tubo. Ao longo de onze dias, a equipe acompanhou como a concentração de cada poluente mudava em cada tubo. Para as plantas não modificadas, a concentração de ambos os gases não mudou com o tempo. Mas para as modificadas, a concentração de clorofórmio caiu 82% após três dias, e quase não foi detectada no sexto dia. A concentração de benzeno também diminuiu nos frascos de plantas modificadas, mas mais lentamente: no oitavo dia, a concentração de benzeno caiu cerca de 75%.
No entanto, o pesquisador alerta que para ser eficiente dentro de casa, é indispensável um fluxo de ar. “Se você tivesse uma planta crescendo no canto de uma sala, isso teria algum efeito naquela sala. Mas sem fluxo de ar, levará muito tempo para uma molécula do outro lado da casa alcançar a planta”, diz. A equipe está trabalhando atualmente para aumentar as capacidades das plantas, adicionando uma proteína que pode quebrar outra molécula perigosa encontrada no ar doméstico: o formaldeído, que está presente em alguns produtos de madeira, como pisos laminados, armários e fumaça de tabaco.
Enquanto essas plantas modificadas ainda não estão disponíveis para comercialização, o jeito é seguir algumas recomendações médicas diárias para manter a saúde dos pequenos protegida. “Sobretudo, manter sempre as mucosas nasais hidratadas para evitar a aderência de vírus, bactérias e poluições do ar, impedindo que entrem no sistema respiratório. Portanto, é importante lavar com soro nasal diariamente antes e depois da escola”, orienta a pediatra. E claro, promover mais atividades ao ar livre e próximo da natureza, conclui ela.
Fonte: Revista Crescer
Imagem: Mark Stone/Universidade de Washington