Enquanto todos os olhos da torcida se viram para o atleta, que busca a medalha, toda observação de uma pessoa está na técnica e nas regras a serem cumpridas. Essa é a função do árbitro que, no Para-halterofilismo ganha ainda mais importância pela quantidade de observações que precisa ser feita antes e durante as competições. Neste meio, reservado aos mais competentes, está a potiguar Elys Costa, 32 anos, única árbitra internacional na modalidade.
Formada em Educação Física, com especialização em saúde pública, mestrado em ciências da saúde e cursando doutorado em ciências farmacêuticas, Elys é mais importante para a modalidade aqui no Estado do que ela própria poderia imaginar. Além de elevar o nível da arbitragem nacional, a árbitra Norte-rio-grandense ajuda as atletas da categoria, principalmente nas competições fora do País.
A ajuda tem início antes mesmo da disputa. Durante a pesagem, as meninas precisam usar o mínimo de roupas, o que torna o momento constrangedor para algumas, principalmente se não houver a presença de árbitros femininos para executar a tarefa.
Outra importância para a modalidade diz respeito a comunicação. Nem todas as atletas dominam outros idiomas. Ter uma árbitra brasileira facilita a comunicação com os demais membros da arbitragem internacional.
Aliás, foi a capacidade de se comunicar fluentemente em inglês e espanhol que levou a potiguar a integrar o quadro internacional. “Vi que tinha uma carência de árbitros do sexo feminino. Para você ter uma ideia, em 2012 só existiam homens. Então vi essa oportunidade. O Comitê Paralímpico Brasileiro lançou edital para participar do curso de arbitragem, mandei o currículo, participei e, apesar da dureza do curso, cuja média de aprovação era 9 e todo material era em inglês, fui aprovada. Em princípio recebi a licença para o Brasil, mas com expectativa para internacional, até porque já tinha demonstrado fluência em outro idioma durante o curso”, relembra.
A primeira competição não demorou a aparecer e em 2012, Elys Costa já arbitrava o Circuito Brasileiro de Para-Halterofilismo. Três anos depois participou, em esquema de teste, do Aberto das Américas, na Cidade do México.
No ano seguinte surgiu a grande oportunidade. Ela foi convidada para participar do Evento Teste na Arena Carioca, no Rio de Janeiro. A competição era o Mundial da modalidade, com a presença de 30 países. “Neste momento já fui chamada de imediato para Internacional. Não imaginava que seria tão perfeito. Foi fantástico”, comenta.
Delegação brasileira de árbitros composta apenas por homens, com exceção da potiguar Elys Costa
Apesar da experiência vitoriosa no Rio de Janeiro, um incidente triste também marcou a temporada. O atleta potiguar Felipe Josean que, justo neste evento, bateu o recorde brasileiro como o maior supino da história, faleceu uma semana após se tornar recordista. “Foi uma notícia muito triste que pegou a todos de surpresa e marcou muito”, conta.
Paralimpíadas:
A experiência no evento teste acabou assegurando para a árbitra potiguar um lugar nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro no ano seguinte (2016). “Estar no Rio em 2016 foi simplesmente uma experiência que não tem como descrever. Como profissional de educação física foi ainda mais impressionante, porque fiquei na Vila Olímpica, acompanhando os atletas, a alimentação, os treinamentos, os equipamentos. Foram 15 dias, 24h por dia de aprendizado”, explica.
Elys Costa relembra também um fato inusitado e que ficou na memória em sua passagem pela Rio 2016. “Estamos acostumados, como árbitros, a muito pouco público nas competições, até porque não se trata de um esporte popular. Mas, diferente disso, no Rio de Janeiro a arena estava lotada. E, não sei se você sabe, mas o árbitro do País não pode trabalhar na prova na qual esteja um competidor de seu País. Então, quando entramos na quadra para trabalhar, o locutor da arena passou a citar os nomes de cada árbitro e a nacionalidade. Quanto citou o meu e disse Brasil, toda a arquibancada passou a gritar: árbitra, árbitra !!! Foi muito engraçado”, diverte-se.
A potiguar disse ter ficado muito emocionada com a primeira medalha conquistada pelo Brasil na modalidade e vive a expectativa por estar mais uma vez representando o Brasil e o Rio Grande do Norte agora nas Paralimpíadas de Tóquio, no Japão, em 2020.
Para isso, ela segue se preparando e trabalhando nos Circuitos Brasileiros, além de ganhar novas oportunidades em competições internacionais como foi o caso do Open das Américas, realizado recentemente na Colômbia, que reuniu 22 países e consagrou o Brasil como campeão.
“Foram 155 atletas de 22 países e o Brasil foi muito bem, tanto que voltamos com o título. Além disso, os atletas do Rio Grande do Norte deram show e conquistaram várias medalhas. Tenho uma relação muito boa com todos eles aqui do estado. Sempre brincamos e nos encontramos. Na hora da competição precisamos manter aquela distância que a regra nos impõe, mas fora dos torneios estamos todos sempre juntos”, revela.
Elys Costa já tem um compromisso agendado para 2019. Ela arrumará as malas e voará para o Peru, onde será árbitra no Pan-americano. A competição é de suma importância para os atletas, pois pode determinar a classificação para as Paralimpíadas de 2020. O mesmo também se aplica ao caso das arbitragens.
Além do Pan-americano, a árbitra espera ser chamada para trabalhar numa competição internacional chamada “Fazza”. O torneio é privado, organizado pela realeza, na cidade de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. “É um torneio que não é organizado por entidades, mas sim pela família real em Dubai. É uma competição que reúne grandes atletas e seria uma ótima experiência para ser vivida”, avalia.
Elys Costa afirma que se sente realizada, mas não pretende parar de se aperfeiçoar. “Quero aprender e aprimorar mais idiomas, até porque alguns temos mais dificuldade. Não dá para ficar parada”, conclui.
A árbitra afirma que espera, em breve, ver mais mulheres como árbitras internacionais, até porque, segundo ela, existe muito espaço para crescimento, uma vez que, por exemplo, em uma competição trabalham, ao mesmo tempo, até 15 árbitros.
O que é Para-Halterofilismo:
A modalidade fez sua estréia como esporte medalha nos Jogos Paraolímpicos segundo em 1964. Inicialmente oferecido apenas para levantadores com lesões na medula espinhal, o esporte tem crescido para incluir numerosos grupos de deficiência, bem como regras de assimilar semelhantes às de levantadores sem deficiência. De 1992 a 1996, o número de países participantes mais do que dobrou. Desde então, esse número aumentou para incluir 109 países, e é o esporte que mais cresce no mundo paraolímpico. O sorteio dos atletas para determinar a ordem de pesagem e elevadores. Depois os atletas são classificados dentro das 10 categorias de peso diferentes (masculino e feminino), cada um deles levantar três vezes (competindo em sua respectiva classe de peso). O mais pesado “good lift” (dentro da classe de peso) é o elevador utilizado para colocação final na competição. É uma competição paraolímpica e aberto a atletas masculinos e femininos com deficiências físicas, tais como nanismo, amputação / perda do membro, lesão da medula espinhal / cadeira de rodas usuários e paralisia cerebral / lesão cerebral / acidente vascular cerebral. O halterofilismo entrou no programa paraolímpico em 1964. No início, somente homens com lesões medulares podiam participar. Desde 2000, mulheres também participam das competições. Atualmente, também podem competir atletas com paralisia cerebral, lesão medular, amputados (somente amputados de membros inferiores). Os atletas devem abaixar a barra até o peito, mante-la estática e depois subir a barra até a extensão total dos braços. Existem 10 categorias diferentes, baseadas no peso corporal. Para cada atleta são dadas três tentativas e o vencedor, em cada categoria, é aquele que levantar o maior peso em quilogramas. O esporte é praticado em 115 países.
Fonte: Tribuna do Norte
Image: divulgação