Novo jogo da Vertical Robot agrada bastante com ótimos puzzles, narrativa misteriosa cativante e visuais muito bons.
A indústria dos games aos poucos está se adaptando ao novo nicho que surgiu com a relativa popularização dos óculos de realidade virtual. Com um início morno e com poucas inovações, o grupo seleto de jogos do gênero recebe a cada dia novos avanços na área. Um exemplo disso é Red Matter (PC/PSVR), que traz com muita qualidade a lógica de puzzles do gênero escape room para a realidade virtual.
O game desenvolvido pela Vertical Robot consegue combinar muito bem o gênero conhecido pelos puzzles inteligentíssimos com uma atmosfera de mistério e suspense com ficção científica de primeira. Sem nenhuma preocupação em dar algum tipo de ação para os jogadores, o título agrada principalmente pelos visuais e enigmas, ambos muito bem pensados para a imersão na realidade virtual.
Uma distopia espacial russa
No enredo de Red Matter, nós entramos na pele de um astronauta que precisa investigar o que aconteceu com uma base espacial russa que, misteriosamente, perdeu a comunicação com o governo. Entretanto, a cada momento que investigamos mais e mais a base, percebemos que a história tem muito mais complicações o que aparenta. A principal delas é a presença da substância que dá o nome ao jogo: a matéria vermelha.
Essa matéria alienígena tem inúmeros efeitos misteriosos e, aparentemente, é o cerne de todo o desastre que aconteceu na base envolvendo todos os seus integrantes. A melhor parte de toda essa narrativa é o fato dela não ser contada de modo didático demais ou muito focado em contar uma história, mas sim, através da exploração do ambiente.
É com o seu tradutor ativado e observando mapas, documentos, fitas de gravação, desenhos nas paredes, fotos antigas e vasculhando armários que você começa a entender minimamente o que aconteceu naquele lugar. Com isso, o jogador pode simplesmente passar direto de tudo e apenas resolver os puzzles que, por si só, já são excelentes. Ou então pode imergir numa história interessante e cheia de detalhes a serem observado em cada canto de cada sala dessa grande e deserta base espacial.
O controle das mãos que faz toda diferença
No quesito jogabilidade, Red Matter faz um trabalho acima da média em relação a outros games lançados recentemente para a realidade virtual dos quais já falamos por aqui, como Evasion (PC/PSVR) e Zone of the Enders (PC/PS4). Para começar, o uso obrigatório dos controles de movimento como o PlayStation Move no caso do PlayStation VR faz toda diferença. Isso porque a liberdade de movimentos e controles de manipulação do mapa aumentam bastante a imersão.
Com os equipamentos de manipulação do ambiente utilizados pelo astronauta, é possível abrir armários, apertar botões, pegar papéis, abrir portas e até manipular fusíveis tamanha a precisão dos controles. Podemos arremessar algo com uma das mãos e pegar com a outra, mudar a posição com a qual estamos segurando algum objeto e mexer em praticamente tudo do ambiente que não está preso no chão.
Isso dá uma sensação de imersão e uma liberdade de ação que são um diferencial incrível no jogo. Fora isso, a ausência de telas de carregamento entre as fases do jogo, juntamente com seus excelentes efeitos visuais e riqueza de detalhes, mesmo nas resoluções mais baixas como a do PSVR, agradam bastante.
Enigmas criativos e muito variados
Essa jogabilidade fluida e livre permite que o jogo construa inúmeros enigmas distintos para serem vencidos pelos jogadores a cada capítulo que se passa. Desde girar manivelas e registros na ordem certa, usando as duas mãos simultaneamente em muitas das vezes, até precisar explorar locais para buscar pistas sobre senhas, manuais para reparos elétricos e até ajustar fusíveis de uma placa de circuitos.
Se uma coisa Red Matter conseguiu fazer foi construir uma boa variedade de puzzles conseguindo contar uma história de suspense muito interessante. Mesmo que o jogo praticamente não cause sustos durante suas poucas horas de duração, a atmosfera de tensão é sentida a cada sala que adentramos, imaginando o que pode acontecer em seguida.
Sobre a curva de desafio desses puzzles, temos mais um ponto positivo para Red Matter. Isso porque os desafios vão ficando cada vez mais complexos, mas de uma forma muito orgânica e instintiva, fazendo com que a exploração seja sempre bem recompensada e o raciocínio lógico também. Muitas vezes, uma pessoa com uma boa aptidão lógica consegue resolver alguns enigmas sem necessariamente vasculhar todo o ambiente para isso. Não porque o enigma é simples, mas sim pela lógica construída ali realmente fazer sentido ao ponto de deduções funcionarem.
Tempo: o calcanhar de Aquiles da realidade virtual
Um dos maiores desafios da realidade virtual ainda está no tempo de duração de seus jogos. Muito disso vem do fato de jogos em realidade virtual cansarem muito mais os jogadores em comparação com os videogames tradicionais. Além disso, temos ainda a possibilidade de enjoos por longa exposição. Pensando nisso, muitas desenvolvedoras se focam em criar jogos mais curtos para os óculos de RV, possibilitando uma experiência completa, que permite replays, mas que é definitivamente curta.
No caso de Red Matter, temos um meio termo aí. Isso porque o jogo em si é curto, com cerca de três a cinco horas de duração dependendo da velocidade com a qual os jogadores resolvem os enigmas. Entretanto alguns fatores favorecem o retorno ao jogo, como por exemplo alguns de seus troféus muito interessantes, que pedem determinadas tarefas que não necessariamente os jogadores farão de primeira. Além de possuir detalhes que podem ser melhor experimentados numa segunda experiência com o jogo.
Um jogo inteligente
Red Matter (PC/PSVR) é um título competente no que promete. O gênero escape room tem muitas possibilidades bacanas no mundo da realidade virtual e o game da Vertical Robot mostra isso com muita competência. Com um tempo de gameplay mediano para jogos de realidade virtual, o que mais chama atenção é de fato a inteligência do jogo, seja em sua narrativa ou em seus enigmas.
Aqui temos um título que representa o que seria o ideal dos games de realidade virtual atualmente: um preço relativamente mais baixo do que os tradicionais games de console, uma experiência muito boa e imersiva, mas ainda de duração média baixa. Porém esse acaba sendo o maior desafio dos jogos de realidade virtual atualmente: cativar o jogador em um tempo bem menor do que os jogos tradicionais. E isso, Red Matter faz muito bem.
Prós
Liberdade de controles das mãos aumenta as possibilidades;
Puzzles inteligentes e bem adaptados para a realidade virtual;
Narrativa de suspense muito boa e bem encaixada na exploração do ambiente;
Curva de desafio bem construída;
Enigmas usam raciocínio lógico e outras capacidades mentais muito bem;
Bom equilíbrio de tempo de jogo com conteúdo.
Contras
Curta duração pode não agradar alguns jogadores;
Ausência do corpo do personagem prejudica um pouco a imersão.
Lúcio Amaral é jornalista e advogado pós-graduado em Direito e Processo Trabalhista. Certificado de Estudos Aprofundados em Psicanálise. Ganhador do II Prêmio de Rádio e Jornalismo em Saúde e Segurança do Trabalho, promovido pelo MPT em 2008.