Crônica: Crescendo com os videogames – Parte 3

O Primeiro Famiclone a gente nunca esquece

Como havia dito, deste que ganhei o meu Master System em 1988 virei seguista de carteirinha. Mas isso não me prendia a um console somente, pois no ano seguinte houve a explosão de famiclones e a grande maioria dos meus amigos tinha um deles.

O primeiro famiclone que tive contato foi o Phantom System da Gradiente, eu havia acabado de me mudar da Rua da Saudade para Petrópolis e logo fiz amizade com os meninos do condomínio em que fui morar. Entre eles, em especial, foram os irmão Fernando e Marcelo (o qual todos chamavam carinhosamente de Celú), eles tinham em casa o glorioso Phantom System que vinha com o cartucho Ghostbuster junto. Então nos finais de semana sempre reversarvamos as jogatinas entre as casas, que também eram compartilhadas entre os jogos de botão, as peladas e o videogame.

Phantom System da Gradiente

No ano seguinte começaram a abrir as locadoras em Natal, costumávamos a ir muito a duas locadoras que ficavam próximas: a Shop Game de Aroldo, que ficava na Rodrigues Alves; e a Start Games de Fernanda, que ficava na Floriano Peixoto. Então com o surgimento delas os jogos ficaram mais acessíveis, podíamos alugar o lançamento da vez e ficarmos o final de semana inteiro tentando debulhar o jogo. Detalhe ao horário, tínhamos que chegar cedo, senão perdíamos os melhores títulos.

Graças a isso conheci melhor o potencial do 8 bits da nintendo, apesar de não me impressionar muito com os gráficos, jogos menos coloridos e brilhantes (o Master tinha um hardware bem superior e muito mais cores), fiquei muito surpreso quando pela primeira vez joguei o Ninja Gaiden e vi suas impressionantes CGI’s. Jogo nenhum do Master System era capaz de gerar tamanha faceta. Quando vi aquilo fiquei boquiaberto. “Mas como esse aparelho pode gerar esses desenhos animados em seus jogos?!!!”. Ninja Gaiden além da belíssima introdução em CGI era sim um jogasso, como poucos que vi no 8 bits da Sega, porém sua dificuldade era absurda, nunca consegui chegar, sequer, a última fase deste jogo.

Goal! O melhor futebol dos 8 bits

No condimínio em que morava o futebol era unanimidade entre a gurizada, então final de semana sempre tinha algo relacionado ao velho esporte bretão, se não era nas peladas, era no jogo de botão (ou futebol de mesa). Sempre havia algum campeonato que organizávamos para vermos quem era o melhor no botão. Então com a evolução dos jogos eletrônicos, não demorou muito para que os campeonatos passassem a ser também em frente a televisão.

Quando Fernando nos interfonou chamando para jogar um cartucho que havia acabado de ganhar no seu Phantom System, eu e meu irmão não contamos conversa, fomos correndo para o 4º andar decobrir que jogo era. Ele nos mostrou a capa e vimos que era um jogo de futebol, o Goal! Eu tinha o Super Futebol do Master System, era o tipo de jogo de futebol que esperava de um 8 bits. Mas quando ele pôs pra funcionar em seu Phantom aquilo pareceu de outro mundo, os gráficos, o som, a jogabilidade, tudo era impressionante naquele jogo, e quando saiu o primeiro gol, aí sim fiquei boquiaberto, uma linda comemoração em CGI, o artilheiro correndo para abraçar seus companheiros, ou o técnico, ou simplesmente comemorar sozinho, eram 3 tipos de comemorações diferentes. Tudo isso vindo de um jogo de 8 bits.

Além do mais, esse jogo possuia coisas que nenhum outro do gênero possuia, campeonatos, sim, no plural mesmo, campeonatos! Podíamos tentar vencer a World Cup, com as seleções, ou simplesmente tentar vencer a copa de clubes, com times fictícios dos EUA. E como era difícil conseguir tal feito! Mas com muito suor e vários finais de semana, conseguimos vencer os campeonatos.

Após o jogo zerado a graça agora passou a ser descobrir quem era o melhor. Começamos a criar campeonatos entre nós, todo final de semana era um, e geralmente acabava com Fernando e meu irmão disputando a final, eu acabava gerlamente em terceiro.

Mas eu era turrão, já cheguei algumas vezes a final, sempre ia disputar contra o meu irmão e sempre perdia. Eu havia descoberto um jeito que ninguém conseguia roubar a bola de mim, bastava ficar mexendo o jogador de um lado para o outro rapidamente que a maioria dos carrinhos passavam reto, e isso deixava o dono do jogo enfurecido.

Mas parece sina, nunca fui bom com a bola nos pés. Sempre, nas peladas, jogava a bola na velha casa amarela, e o pobre do meu irmão tinha que pular o muro para ir buscá-la. Esse meu mal jeito com a redonda deve ter se refletido nos seus adjacentes, pois nunca consegui ganhar nenhum dos campeonatos feitos na rua, seja no Jogo de Botão, seja no videogame. Isso vindo de uma família de excelentes jogadores deve ser uma desonra.

Quando zerei o primeiro jogo do Mario

Esse mesmo amigo, Fernando, também tinha um cartucho do Super Mario Bros. 3, e nessas jogatinas em sua casa decidimos tirar o dia para zerar esse jogo. Nesse dia estava hospedado em sua casa o seu primo de Recife, então decidimos começar a batalha para salvar a princesa Peach do terrível Rei Koopa.

Munidos da revista Ação Games, salgadinhos e refrigerantes, carinhosamente oferecidos por Edilene, e muita gana, começamos o jogo. Fomos seguindo todas as dicas que a revista nos dava, principalmente para conseguir as flautas mágicas, e outros itens valiosos para chegar ao castelo do Koopa.

Não pensem que foi uma tarefa fácil, morremos muitas vezes antes de chegar ao final, muitas por culpa minha. Eu sempre voltava para pegar todas as moedas. Na minha cabeça, eu queria pegar todas para ganhar mais vidas, porém acabava perdendo mais do que ganhando. Por conta disso meu querido amigo me deu o carinhoso apelido de “ambiation”, por ser ambicioso pelas moedas. Claro que toda vez que morria por causa de uma já ouvia um grito de Fernando: “Deixe de ser ambiation”, seguido de um sonoro palavrão.

Mesmo assim, com todos esses contratempos, chegamos ao covil do Koopa. Morremos mais algumas vezes até finalmente derrotá-lo e, finalmente, ver o tão sonhado final do jogo. A alegria foi tanta que começamos a pular de alegria, e quando a princesa estava agradecendo o Mario pelo heróico resgate, eis que nossa euforia bota tudo a perder.

Com os pulos, o primo de Fernando sem querer se enrola no fio do controle, derrubando o videogame no chão. Então, após vários chingamentos, ficamos sem ver a tela final do jogo. Foi uma frustração. Ah! E se estiver se perguntando sobre o estado do videogame após a queda, ele ficou bem, não passou de um susto para ele! Tanto que semanas depois, fomos zerar de novo o jogo e, sem comemorar, conseguimos e vimos a tela final.

O Bit System

Outros grandes amigos que tinham um Famiclone eram os irmãos Rodrigo e João Paulo. Até hoje a amizade permanece inabalada, são amigos de infância que tenho como verdadeiros irmãos! Com Rodrigo, estudei desde a minha quarta série, ele e o irmão, eram figuras sempre presentes nos finais de semana na minha casa, jogavam muita bola, inclusive sendo os dois convocados para a seleção de Futebol de Salão do Estado. Então ter os dois no time era uma vantagem enorme na pelada. Se não fossem as eternas brigas dos dois nas peladas é claro! Eles sempre discutiam, mesmo se jogassem no mesmo time, ou em times opostos,eles sempre discutiam!

Bem, como o assunto aqui é videogame, vou me prender aos finais de semana que eu ia na casa deles jogar. Foi quando eu vi o Bit System pela primeira vez, achei um console incrível, e como era criança e não entendia de Famiclones, estranhava o fato dele pegar as fitas do Phantom System. Na época a Nintendo não podia comercializar aqui devido a várias restrições fiscais, então os Famiclones reinaram. Mas eu, criança, não fazia idéia disso, e para mim o videogame oficial era o Phantom System da Gradiente.

Então conhecendo o clone da Dismac estranhei muito isso, porém achei o videogame muito lindo, diferente com aquela gaveta estilo VHS, mesmo assim muito lindo. Joguei muito o Contra, Batman (um jogasso) e, principalmente o Spiderman vs. The Sinister Six. Talvez pelo cabeça de teia ser um dos meus heróis preferidos e o preferido de Rodrigo.

A dificuldade dos jogos eram gritantes, enormes, isso me puxava mais pro lado da Sega. A Nintendo tinha jogos praticamente inzeráveis. Me orgulho de ter zerado o Super Contra sem o código Konami, o Goal e o Super Mario 3. Consegui zerar ainda o Contra 1, mas com o Código Konami. De resto, qualquer outro jogo do pequeno NES eram difíceis demais para mim, um reles mortal.

Anos mais tarde, já colecionador e envolvido com o Museu do Videogame Potiguar, recebo uma grande surpresa. Meu amigo João Paulo, dono do belíssimo Bit System, em uma de nossas conversas, entra no assunto dos games, eis que ele pergunta se eu queria ficar com o velho famiclone para fazer parte do acervo do museu, claro que a resposta foi sim! Até o momento não fazia ideia que ele ainda possuia o videogame.

Dias depois fui na casa da sua mãe pegar o console, e a sensação de nostalgia foi grande ao recebê-lo das mãos de Dona Socorro. Ele estava exatamente igual ao tempo em que jogava com João Paulo e Rodrigo, dentro da caixa, em perfeito estado. João Paulo não sabia se estava funcionando, pois estava guardado há pelo menos duas décadas. Então o levei para casa e a primeira coisa que fiz foi instalá-lo na minha TV e testá-lo. Com um cartucho cheio de clássicos que havia ganho dos meus amigos Glídio e Tião, liguei o game e pra minha surpresa ele estava funcionando exatamente como há vinte anos, tudo perfeito. Hoje é uma das peças que guardo com maior zelo em meu acervo. Obrigado João Paulo por ter me trazido de volta ao início dos anos noventa com esse presente!

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