Sem emprego e nem estudo: essa é a realidade de 29,7% dos jovens potiguares entre 16 e 29 anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados, referentes ao ano de 2017, vem mostrando uma progressão desde o ano de 2012, de acordo com o Instituto. Em 2016, o percentual era de 25,9. Mais do que o resultado da recessão econômica que deixou mais de 13 milhões de brasileiros desempregados, os números, para os especialistas, revelam falhas nas políticas voltadas para a qualificação e inserção da juventude no mercado de trabalho.
“O que acontece no Rio Grande do Norte é que a população de jovens ‘nem-nem’ vem crescendo paulatinamente ano a ano, e atualmente se encontra em quase 30% da população total de jovens. Isso é um dado muito preocupante, porque quase um terço da nossa juventude não está nem estudando e nem trabalhando”, afirma Flávio Queiroz, analista do IBGE.
Para o analista, a falta de perspectiva, proporcionada tanto pela falta de qualificação profissional como pelo cenário econômico de recessão do país, vem desestimulado cada vez mais os jovens. “Mesmo que alguns jovens estejam acomodados por estarem sendo sustentados por algum familiar, há aspectos no contexto em que eles estão inseridos que contribuem no desestímulo”, completa. É o caso de Josias Victor, de 21 anos. Morador do bairro da Redinha, na zona Norte da capital potiguar, Josias precisou deixar a escola aos 18 anos para trabalhar e contribuir com o sustento da família.
O trabalho formal, no entanto, não durou muito tempo, e pouco tempo depois o jovem foi demitido. “Comecei a mandar currículos para vários lugares, mas nenhum chamava de volta, nem para a entrevista”, relata. Desde então, o jovem tem contado com bicos informais, que aparecem “aqui e acolá”, para poder ter alguma fonte de renda.
Em uma pesquisa divulgada em dezembro pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revela-se que os “nem-nem”, ou seja, que nem estudam e nem trabalham, já correspondem a 23% da juventude brasileira. A pesquisa faz parte de um estudo mais amplo, “Millenials na América e no Caribe: trabalhar ou estudar?”, que engloba jovens entre 15 e 24 anos de 9 países.
Apesar de estarem fora do mercado de trabalho e não estarem estudando, a pesquisa revela que muitos, como Josias, procuram uma oportunidade para ingressar em um dos dois campos: 31% dos jovens entrevistados na pesquisa afirmam estar procurando trabalho, enquanto 64% se dedicam aos trabalhos domésticos e familiares.
De acordo com os dados do IBGE, as estatísticas são mais preocupantes nas regiões Norte e Nordeste onde. O Nordeste, de acordo com os dados do IBGE, lidera os percentuais de jovens ‘nem-nem’. São 30,7%, seguidos pela região Norte, com 27%.
“Outro ponto importante que precisa ser considerado é a facilidade que esses jovens têm de ingressar no mercado de trabalho. Há um incentivo, especialmente no setor público, para manter as pessoas cada vez mais tempo nos cargos. Isso interfere diretamente na renovação e na entrada desses jovens no mercado de trabalho”, completa.
Para Josias Victor, encontrar o emprego permanece como um de seus objetivos – as recusas, no entanto, fazem com que as esperanças do jovem não estejam muito elevadas. “Confio em Deus e vou continuar procurando trabalho. Alguma hora vai aparecer. Mas depois de um tempo, você vê que eles estão procurando cada vez mais gente pra fazer bico, e oferecendo cada vez menos trabalhos fixos. É uma realidade”, diz o jovem.
Fonte: Tribuna do Norte
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