Dia seis de novembro, quinta-feira, 7 da manhã, ponte Newton Navarro no sentido zona Sul. Não há chuva, o céu está relativamente limpo e a temperatura começa a esquentar. Nada fora do normal a não ser o tráfego, que está parado.
Na descida da ponte, onde os motoristas geralmente reduzem para 40 km/h para não serem pegos pelo radar, um motociclista caído não surpreende mais. É o segundo ou terceiro na semana que obriga o carro do resgate (Samu ou Bombeiros) a trafegar na contramão para realizar o socorro.
Por sorte, ele não faz parte de uma estatística preocupante: de cada 10 mortes no trânsito de Natal, cinco são de motociclistas. No Hospital Walfredo Gurgel, a média é de 20 a 30 motociclistas por semana que dão entrada. Quem não morre, ficará por meses na reabilitação drenando recursos do SUS ou inválidos na conta da Previdência.
Rubens Ramos, professor titular da UFRN na cadeira de Engenharia de Transporte – disciplina que cobre, além da engenharia de tráfego, transporte público, estradas, portos e aeroportos – anda com esses dados na ponta da língua quando dá palestras educativas para a comunidade.
A última delas foi em Parnamirim, onde obras do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) devem aumentar consideravelmente a velocidade dos veículos na BR 101, coisa que para o professor é um grande perigo, considerando as estatísticas nacionais.
“No Brasil são, a grosso modo, 50 mil mortes por homicídios/ano, média dos últimos 10 anos, contra 40 mil mortes/ano no trânsito. E quem mais morre, de longe, são jovens. Para cada 10 homicídios, são oito mortes em acidentes de trânsito e, desses, quatro mortes em acidentes com moto”, lembra a professor.
O outro lado dessa tragédia das motos acabou caindo em cima de dona Justina, 88, residente na zona rural, que veio às pressas para Natal depois que fraturar o quadril numa queda.
Sem vagas no Walfredo Gurgel, eternamente superlotado em grande parte por motociclistas acidentados, ela espera há mais de 20 dias para ser operada em outro hospital onde conseguiu vaga.
Para Rubens Ramos, sem tantos acidentes de moto, não haveria macas e camas no corredor do Walfredo e a rotina do SAMU seria muito mais tranquila e fluída.
Qual a solução?
O professor responde, sem pestanejar: “endurecer a fiscalização, multar motociclistas que andassem entre fileiras de carros, entregar panfletos contando as consequências de trafegar a mais de 50 km por hora, mostrar que o capacete não suporta impacto superior a isso e manter essa campanha indefinidamente”.
Rubens argumenta que a saída é simples: “mostrar que a velocidade maior está no limite entre a vida e a morte, pois se as pessoas reduzissem a velocidade em 10% talvez 10% a menos de pessoas perdessem a vida”.
Fonte: Agora RN
Fotos: Flávia Barros – Banda B