Robin Hood – A Origem (Crítica)

Para um filme que frisa duas vezes, logo no início, que não é uma história de ninar, Robin Hood – A Origem é bastante preguiçoso. Reciclando clichê atrás de clichê dos filmes de ação, o diretor Otto Bathurst constrói uma narrativa previsível e melodramática que, se não provoca risadas desconfortáveis, causa muito constrangimento.

Taron Egerton vive uma versão de jaqueta de couro do herói que, como na lendária história inglesa, roubava dos ricos para dar para os pobres. Tendo como seu aliado John (Jamie Foxx), um antigo inimigo nas Cruzadas, ele elabora um plano para impedir o Xerife de Nottingham (Ben Mendelsohn) de seguir na guerra e assolar seu povo na miséria. Mas Hood não está nessa missão por pura generosidade. O protagonista pretende com isso reconquistar o amor de Marian (Eve Hewson), sua antiga namorada que agora está envolvida com uma espécie de “líder sindical” (Jamie Dornan) da cidade.

Somente pelo visual do filme dá para notar que precisão histórica não foi exatamente uma preocupação na produção. Ainda que a trama toque em temas como honra e um amor “impossível”, o longa não se pauta pelas narrativas medievais tradicionais e traz para o mito do herói um quê mais urbano. Esteticamente, a decisão propicia uma ambientação interessante e atraente, mas, em contrapartida, cria situações no mínimo curiosas, como um protesto de “black blocs” que marcham pelas ruas com coquetéis molotov em pleno século XIII.

Por si só, detalhes como esse não incomodariam e seriam completamente irrelevantes, não fosse a pobreza do roteiro. Ben Chandler e David James Kelly investem em diálogos vazios e cheios de frases de efeito que, de tão fracos, tornam os momentos de revelação dos episódios de Scooby-Doo obras-primas muito complexas. As conversas entre o casal principal são facilmente as piores. A dupla de roteiristas faz com que Egerton e Hewson digam clichês já há muito tempo abandonados por séries e filmes adolescentes, criando cenas simplesmente vergonhosas, mesmo com as boas performances dos atores.

Não bastasse isso, a construção da narrativa não dá chances para que o espectador se surpreenda. A própria direção das cenas deixa tudo muito óbvio e, mais de uma vez, Bathurst toma decisões que beiram a breguice. Neste contexto, elementos como os black blocs só somam à pilha de situações ridículas do filme e fica difícil levá-lo a sério. Talvez seja essa justamente toda a beleza de Robin Hood – A Origem: rir da cafonice alheia.

Apesar de tantas falhas, não há dúvida de que o elenco redime o filme em muitos momentos, a começar pela escolha de Taron Egerton como o personagem-título. Mesmo com o texto pobre, o ator entrega uma boa atuação, confirmando o seu posto como queridinho dos blockbusters de ação dessa geração. É também evidente a sua química com Jamie Foxx que, por sua vez, parece bem ciente de que o longa não é exatamente um trabalho primoroso e faz apenas o suficiente para ser chamado para uma eventual sequência. Ben Mendelsohn, então, poderia fazer o Xerife de Nottingham de olhos fechados. Já acostumado a interpretar vilões autoritários, ele tira de letra o personagem e é um dos poucos pontos positivos da obra.

Por isso, um conselho: não tente levar Robin Hood – A Origem a sério. No máximo, assista ironicamente.

Fonte: Omelete

Foto: divulgação

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