Por Ivan Finotti
No dia em que a ilustrada completou 30 anos, 10/12/1978, a capa do caderno trazia uma entrevista com o jornalista uruguaio Eduardo Galeano, cujo “As Veias Abertas da América Latina” (1971) frequentava há mais de um ano a lista dos mais vendidos no Brasil.
Mas outra entrevista chama atenção naquela edição da Folha. Era a capa do folhetim, o primeiro filhote da ilustrada, que havia estreado em janeiro de 1977. Era uma espécie de ilustríssima daqueles tempos, mais em formato tabloide (metade do jornal).
Saia sempre aos domingos e trazia textos mais aprofundados ou diferentes sobre cultura. Naquela edição de estreia, além da entrevista de capa com Tom Jobim por Tarso de Castro (também editor do caderno), trazia um bem-humorado relato sobre a derrota humilhante do time de futebol de Chico Buarque por 7 a 0 para uma equipe paulista.
Mas, em 10/12/1978, a capa do Folhetim era Caetano Veloso. Ele estreava o show “ Muito” e recebeu o repórter em seu apê no Leblon para almoçar feijoada sentado no chão, feita “de feijão mulatinho! ”, para espanto do jornalista. “Baiano não come feijão preto”, justificou o artista.
Já na primeira pergunta da entrevista, que se entende por quatro páginas, Caetano fala sobre o papel da crítica, o mesmo assunto do debate nesta quarta dentro das comemorações dos 60 anos da ilustrada.
“O universo que você transita nas suas músicas é bem difícil de traduzir em termos jornalísticos. Mas o Folhetim às vezes consegue ser uma ponte entre a criação artística e a informação de imprensa…”, diz o repórter.
E Caetano responde: “Cê sabe que no Brasil a imprensa artística caiu completamente, no mundo todo também. Porque nos anos 60 pintou uma imprensa artística e também um público artístico. Quer dizer, uma transa de todo mundo ter uma vida artística, né? Por exemplo, o Bondinho era uma revista artística, o próprio Pasquim era um pouco, mas caiu totalmente. Na Argentina tem a Expresso Imaginário, que é uma revista artística. O Rolling Stone, aquele jornal americano, ele encaretou bastante, mais ainda existe, ainda é mais ou menos alguma coisa. Quer dizer, não tá mais na onda esse tipo de imprensa. O Folhetim, como você disse, é uma coisa entre isso e a imprensa puramente informativa. Quando eu digo imprensa artística não é imprensa sobre arte, não é especializada. É imprensa criativa em si mesma. ”
Crédito da Foto: Divulgação
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br