Evento da UERN debate questões étnicas do Nordeste brasileiro

Em alusão ao Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) promoverá de 19 a 23 de novembro o IX Colóquio Sobre Questões Étnicas no Nordeste Brasileiro, no Campus Central. A programação é desenvolvida através do Departamento de Ciências Sociais e Política, e do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB).

Com o tema “Questões étnicas e políticas públicas de ações afirmativas em tempos de incertezas”, o Colóquio visa proporcionar um amplo espaço de debates e formação através de minicursos, oficinas, palestras e apresentações de trabalhos científicos.

O evento reunirá pesquisadores, estudantes, representantes de movimentos sociais e culturais, profissionais da cultura e da educação, povos e comunidades tradicionais e comunidade em geral. “O objetivo é proporcionar um debate reflexivo que nos leve a pensar no tempo presente, caracterizado como tempos de incertezas”, frisa a profª. dra. Eliane Anselmo da Silva, do Neab/Uern. O encontro pretende fortalecer e dar visibilidade a pesquisas, estudos, experiências, lutas políticas e sociais acerca dos problemas epistemológicos e éticos do cotidiano.

“A ideia do racismo no Brasil é considerada por grande parte da população como algo que não existe. Isso se deve a um imaginário social peculiar sobre a questão do negro no nosso país, que se alicerça no mito da democracia racial. Ou seja, a crença de uma sociedade que é exemplo de democracia e inclusão racial e cultural, onde todas as ‘raças’ e etnias convivem em perfeita harmonia. Isso acaba gerando uma certa desconfiança ou a uma ideia de algo sem importância, no que se refere ao trato pedagógico, político e sociológico da questão racial no Brasil. Mas, na prática, são essas pessoas, negros, índios, pardos, assim como algumas minorias, que sofrem com o preconceito e a discriminação”, avalia a professora.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 8,6% da população declaram-se negros. Já 46,8% dos brasileiros se identificam como pardos. Embora negros e pardos representem a maioria da população, a população negra sofre com a desigualdade social. Para se ter uma ideia, a maior parcela de desempregados no país é da população negra: 63,7% do total. Os salários dos negros também são menores e eles estão nas piores ocupações, tendo a média de seus salários quase a metade em relação à dos brancos. E mesmo depois de mais de 15 anos desde as primeiras experiências de ações afirmativas no ensino superior, o percentual de pretos e pardos que concluíram a graduação cresceu de 2,2%, em 2000, para 9,3% em 2017.

Para ela, as políticas públicas de ações afirmativas voltadas para o negro no Brasil é um passo fundamental para a inclusão social dessa população. “É uma iniciativa muito importante do Estado, mas, sobretudo, é uma vitória das lutas históricas empreendidas pelo Movimento Negro brasileiro e intelectuais em prol da valorização do negro e da cultura afro no país. Mas, principalmente, em prol da superação do racismo na nossa sociedade”, diz. Ela destaca que “as políticas de ações afirmativas trouxeram grandes avanços sociais, mas ainda temos um caminho muito longo a seguir”.

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

O Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro em referência ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo de Palmares, que lutou para preservar o modo de vida dos africanos escravizados que conseguiam fugir da escravidão.

A data tem como objetivo possibilitar uma reflexão sobre questões relacionadas ao preconceito e a discriminação no Brasil, bem como debater políticas públicas de ações afirmativas voltadas para o negro no Brasil.

 

Mapeamento dos terreiros visa orientar a construção de políticas públicas

 

Durante o IX Colóquio sobre Questões Étnicas no Nordeste brasileiro haverá um momento especial com os terreiros, que é a Louvação a Baobá. “Esse momento ímpar, de fé e divulgação da religiosidade afro-brasileira na cidade, será na terça-feira, Dia da Consciência Negra, na Praça do Teatro Municipal Dix-huit Rosado, a partir das 17h”, convida a professora Eliane Anselmo.

Na ocasião, o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) fará uma nova chamada para os terreiros participar do projeto de extensão de mapeamento das comunidades tradicionais de terreiros de Mossoró. A iniciativa vem sendo desenvolvida na Uern e tem como objetivo promover ações para o reconhecimento da diversidade na sociedade brasileira, especialmente no espaço acadêmico, e a busca de caminhos possíveis para a efetivação de políticas afirmativas.

“Nesse momento estamos na etapa de articulações junto aos terreiros, para darmos início a identificação e cadastro das casas, e na sequência fazer as visitas e mais procedimentos metodológicos”, informa Eliane Anselmo. O projeto de extensão é desenvolvido em parceria com o Centro Espírita de Umbanda Xangô Agojô e o Ìlé Asé Dajó Babá Elejibo, e o Ìlé Asé Obá Ogodô, da cidade de Extremoz, através de suas casas filiais e do Grupo de Estudos sobre Culturas Populares, do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

O projeto tem como foco principal o combate à intolerância religiosa. “Nosso objetivo não é apenas de contabilização, registro e geolocalização das comunidades de terreiros, mas também de conhecer suas características em relação a um conjunto de indicadores pertinentes para orientar a construção de políticas públicas específicas”, diz a professora. Segundo Eliane Anselmo, os mapeamentos se destacam como iniciativa para combater o problema, dando visibilidade e segurança aos terreiros, além de acesso a políticas públicas, como educação, saneamento básico e saúde.

 

Intervalo Cultural terá edição especial no Dia da Consciência Negra

O Projeto Intervalo Cultural 2018 retoma a sua programação na próxima terça-feira (20), com uma apresentação especial alusiva ao Dia da Consciência Negra. Promovido pela Diretoria de Educação, Cultura e Artes (DECA), da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (PROEX/UERN), o evento será realizado em duas edições.

A primeira será às 10h30, no pátio da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais (FAFIC). A programação terá a cantora Marilha Kardenally, com um show descontraído que abrangerá músicas de grandes cantores da MPB, focando nas questões de negritude.

Na noite, às 20h30, o Intervalo Cultural será no Centro de Convivência do Campus Central. Na oportunidade, o cantor Márcio Gleibe e a banda Legião Rural do Centro de Educação Integrada Professor Eliseu Viana (CEIPEV) farão um show voltado para os ritmos afro-brasileiros, valorizando a cultura e a consciência negra.

De acordo com Hallysson Dantas, coordenador da ação, o Intervalo Cultural é um projeto de circulação artística no âmbito da universidade, e tem como objetivo enriquecer a formação cultural dos alunos e oportunizar artistas de dentro e de fora da universidade a mostrarem seus talentos.

O projeto retoma as apresentações com algumas novidades. Uma das mudanças será quanto ao espaço de realização. “Agora, o Intervalo Cultural ganhará a itinerância como característica principal”, adianta Hallysson. Outra modificação é que o intervalo será realizado bimestralmente, com tempo de duração de 15 minutos, com apresentações às 10h30 e às 20h30. “Em sua nova versão, o Intervalo Cultural contemplará todas as seguintes linguagens artísticas: exibição de curtas, performances, circo, artes visuais, teatro, música, dança, e demais artes do palco”, informa.

Na edição desta terça-feira, o Intervalo Cultural tem como apoiadores ações que acontecerão na Uern no dia 20 de novembro: o IX Colóquio Sobre Questões Étnicas no Nordeste Brasileiro e a Semana de Ciências Sociais da Uern, ambos realizados pelo Departamento de Ciências Sociais e Política da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, e do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB); o Quilombo Multicor, um evento que será realizado na Padoca (espaço de convivência do Departamento de Comunicação Social (DECOM) e englobará vários artistas das mais diversas linguagens artísticas em prol da união, luta e resistência das minorias sociais; e a Biblioteca Central da Uern, que durante as apresentações estará realizando a troca de CDs e DVDs por brinquedos para colaborar com a campanha “Meu Melhor Natal”.

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